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Liderança no exterior, caos em casa

Enquanto Gustavo Petro busca se projetar como líder regional através da CELAC, a crescente crise de segurança e fragmentação política na Colômbia questionam sua capacidade de governar em casa.

O presidente colombiano Gustavo Petro assumiu recentemente a presidência pro tempore da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Como parte desse esforço mais amplo para se posicionar como líder da América Latina, Petro declarou durante uma reunião de gabinete que participaria de sua visita à China como presidente da CELAC, acrescentando: “Agora sou duas vezes presidente: presidente da Colômbia e presidente da América Latina e do Caribe”. Essa autoproclamada dupla presidência resume a ambição diplomática de Petro de alcançar um papel de liderança regional. De fato, em apenas seis meses, Petro fez duas visitas oficiais ao Haiti, onde prometeu apoio para combater a violência das gangues e anunciou a reabertura da embaixada da Colômbia em Porto Príncipe. Esses gestos diplomáticos refletem sua visão mais ampla de solidariedade latino-americana e cooperação Sul-Sul.

No entanto, enquanto Petro fortalece a presença da Colômbia no exterior, seu governo luta para conter a crescente crise de segurança em seu país. Os grupos armados estão recuperando força, a violência aumenta e as instituições responsáveis pela ordem pública estão fragmentadas. Embora Petro busque elevar o papel da Colômbia no cenário mundial e se projetar como um líder na América Latina, um presidente não pode liderar no exterior se não tem controle em casa.

Uma nação em crise

Petro, o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, assumiu o cargo em 2022 com uma plataforma política que prometia uma mudança transformadora, incluindo uma nova abordagem ao conflito interno. Um elemento central dessa agenda é a iniciativa “Paz Total”: uma política destinada a negociar a desmobilização e a reintegração de atores armados, tanto políticos quanto não políticos. No entanto, na prática, a política enfrentou importantes desafios de implementação e não conseguiu conter o ressurgimento da violência.

Desde maio de 2025, a Colômbia tem sofrido uma onda de ataques por parte de atores armados, principalmente dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o grupo guerrilheiro que assinou um acordo de paz com o governo em 2016, juntamente com membros do Clã do Golfo, entre outros. Isso incluiu ofensivas armadas em vários departamentos, carros-bomba e motocicletas, e ataques contra civis, policiais e funcionários públicos, incluindo o assassinato de Miguel Uribe, candidato presidencial.

No entanto, a crise vai além da segurança. O gabinete de Petro passou por mudanças frequentes, deixando ministérios importantes sem uma liderança consistente e forte. Um emblema dessa tendência é sua relação com a vice-presidente Francia Márquez, a primeira mulher afro-colombiana a ocupar o cargo, que se deteriorou visivelmente. Outrora aclamada como um fenômeno político, Márquez comentou recentemente: “Passei de heroína a traidora”, destacando seu isolamento do círculo íntimo de Petro e sua crescente ausência da liderança pública.

Essas lutas internas também têm prejudicado sua capacidade de obter vitórias legislativas importantes. Até mesmo seu último projeto de reforma judicial, destinado a reviver a política de “Paz Total”, enfrenta críticas por seu potencial reforço da impunidade.

Não se pode liderar no exterior se não se pode governar em casa

As instituições colombianas estão sob grande pressão. O governo está politicamente fragmentado e não existe um marco claro para enfrentar a crise de segurança com coerência e autoridade. Apesar desses desafios, Petro tem exercido uma liderança ativa no exterior. Ele fez da cooperação Sul-Sul e da unidade regional um pilar fundamental de sua política externa. Durante a recente cúpula da CELAC, declarou: “Minha missão será ajudar a conectar a América Latina e o Caribe com o mundo inteiro, ser uma ponte para o mundo e construir um senso coletivo de identidade”. Esse comentário reflete sua visão integradora de liderança, que busca articular a voz da região no cenário global. No entanto, sua mensagem de inclusão é prejudicada pela situação interna.

Esse padrão não é exclusivo de Petro. Em toda a América Latina, é comum que os líderes busquem a liderança regional e reivindiquem ser a voz da região no exterior, mesmo quando a governança nacional é deficiente. Embora esses esforços para promover a unidade e a cooperação sejam valiosos em uma região marcada pela fragmentação e polarização política, um governo que aspire a representar a América Latina em nível global deve primeiro demonstrar sua capacidade de liderar sua população com coerência e legitimidade.

A capacidade de Petro de liderar no exterior é fundamentalmente comprometida por sua incapacidade de governar no país. Sem coesão institucional e autoridade nacional, a diplomacia internacional carece de credibilidade. Enfrentar a crise colombiana exigirá mais do que diplomacia simbólica ou experimentação legislativa. Exige clareza institucional, investimento sustentado na justiça e cumprimento da lei.

Restaurar a ordem interna exigirá mais do que títulos diplomáticos ou liderança simbólica. Exigirá uma gestão clara e instituições coordenadas, capazes de gerar consenso em vez de ampliar a polarização. Um país não pode projetar poder no exterior enquanto se desintegra internamente. O que a Colômbia precisa não é de maior visibilidade diplomática, mas de uma ação coerente e sustentada no âmbito nacional.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

Autor

Cientista política e assessora da Pan-American Strategic Advisors (PASA), especializada em governança latino-americana, desenvolvimento institucional e políticas de recursos naturais. Possui mestrado em Estudos Latino-Americanos pela Universidade de Georgetown.

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