C-autora Daniela Carrión/
A indústria da moda é uma das indústrias mais lucrativas a nível mundial. Tem um valor semelhante ao PIB da França e emprega mais de 300 milhões de pessoas no mundo. Entretanto, a moda rápida ou fast fashion é a segunda indústria mais poluente do mundo e o Banco Mundial e a Fashion Alliance estimam que ela contribui entre 8% e 10% das emissões globais de gases de efeito estufa a cada ano.
Os custos de produção foram reduzidos pela produção em massa. Entretanto, existem outros custos menos óbvios, como externalidades negativas associadas aos impactos ambientais, como o uso de recursos naturais, a poluição e a contribuição para a mudança climática.
O custo ambiental da indústria da moda
Além de ser um trabalho intensivo, este setor requer grandes quantidades de energia para produzir. Isto aprofunda o problema da mudança climática e as consequências associadas ao aumento de eventos climáticos extremos que afetam todos os setores da economia.
Desde o início da cadeia produtiva, quantidades significativas de petróleo são necessárias para a produção de matérias-primas para a indústria têxtil, tais como fibras sintéticas, materiais como poliéster e acrílico, que devido às suas características são muito procurados.
A Fundação Ellen McArthur estima que 342 milhões de barris de petróleo por ano são necessários para a fabricação de fibras sintéticas, que por acaso são um tipo de plástico. Estas fibras são muito solicitadas por sua resistência, durabilidade, elasticidade e impermeabilidade. Entretanto, a mesma durabilidade das peças de vestuário não permite sua fácil desintegração uma vez descartadas nos aterros sanitários dos países.
De acordo com a Fundação Ellen McArthur, mais de seis em cada dez peças de vestuário têm como matéria-prima têxteis de origem fóssil. Também se estima que 35% de todos os microplásticos que acabam no mar provêm de roupas sintéticas e têxteis.
Além de ser uma indústria intensiva no uso de energia, ela também é intensiva no uso de água. Segundo o jornal The Guardian, 1,5 trilhão de litros são necessários anualmente pela indústria da moda, já que para fazer um único par de jeans são necessários cerca de 7.500 litros.
Além disso, de acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, o vestuário sintético derrama uma média de 1,7 gramas de microfibra em cada lavagem, que acaba em fontes de água.
A fabricação de vestuário ocorre em países em desenvolvimento onde as condições de trabalho são mais flexíveis, há melhores condições econômicas para as empresas e as regulamentações são mais fracas. Enquanto partes das economias da Índia, China e Bangladesh dependem do setor têxtil, é também uma indústria relevante para alguns países da América Latina.
A indústria na América Latina
A indústria têxtil foi uma das pioneiras no processo de industrialização do Brasil e o país é atualmente uma referência mundial no design de moda praia, jeanswear e homewear entre outras peças. Este setor é o segundo maior empregador da indústria de manufatura e gera cerca de um milhão e meio de empregos diretos e quase oito milhões de empregos indiretos em mais de 33.000 empresas em todo o país.
No México, por outro lado, a indústria têxtil e de vestuário empregou 640 mil pessoas em 2018 e o setor ocupa o décimo lugar entre as atividades econômicas de manufatura mais importantes do país. Com quase todas as peças de vestuário exportadas para os Estados Unidos, o desenvolvimento desta indústria se deve às más condições de trabalho e à proteção ambiental zero.
Embora o setor seja responsável por grande parte da renda dos países em desenvolvimento, sua reinvenção é vital para o planeta e sua população. Por um lado, para melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores têxteis e, por outro, para desenvolver uma produção mais limpa com práticas sustentáveis em toda a cadeia produtiva que internalizem os impactos sobre o planeta.
Para isso, é fundamental fortalecer a estrutura institucional dos países em desenvolvimento para melhorar as condições de trabalho dos funcionários do setor e para o desenvolvimento de regulamentações e controles que garantam o cuidado e a proteção do meio ambiente. E, do lado do consumidor, é essencial que estejamos mais conscientes das formas de consumo e uso das roupas que usamos todos os dias.
Ter consciência global se está na moda, assim como rever os padrões de consumo e produção para torná-los mais sustentáveis. Devemos pensar em uma economia circular da moda e, para isso, é fundamental tomar ações que envolvam o setor para realmente minimizar os impactos ambientais presentes e futuros.
Daniela Carrión é economista e gerente de projetos financiados pelo Global Environment Facility na América Latina. Ela é mestre em Relações Internacionais pela Universidad Andina Simón Bolívar, Equador, e em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela London School of Economics and Political Science, Reino Unido.
Autor
Economista. Professora de Economia na Univ. das Américas - UDLA (Equador). Doutoranda no Programa de Estado de Direito e Governança Global da Universidade de Salamanca.