Após várias décadas definindo ações multilaterais diante da crise climática global, o horizonte não é só sombrio, mas também aponta para o iminente fracasso dos compromissos assumidos por diversas organizações internacionais. O relatório de 2023 do Fórum Econômico Mundial afirma que os níveis atmosféricos de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso atingiram recordes históricos, dificultando o alcance da meta global de limitar o aquecimento a 1,5°C. Além disso, devido ao atual enfoque geopolítico em relação aos gases de efeito estufa (GEE), diversos órgãos previram um aumento de temperatura de 2,7°C até meados do século, bem acima das metas estabelecidas no Acordo de Paris.
Com 8,6% da população mundial e contribuindo com 7,5% das emissões globais de gases de efeito estufa, a América Latina e o Caribe (ALC) não escapam das graves consequências e impactos da crise climática: derretimento das geleiras andinas em 30% de sua superfície, desertificação de algumas zonas agrícolas, aumento de inundações e deslizamentos de terra, e ameaças à sua infraestrutura e às populações mais vulneráveis, que geralmente são as mais expostas a eventos extremos. As temperaturas já subiram entre 0,7°C e 1°C, e estima-se que, em um cenário de altas emissões, os efeitos das mudanças climáticas representariam entre 4,6% e 30% do PIB per capita do presente até 2100 (CEPAL, 2024).
O Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR, 2024) afirma que a América Latina é a segunda região mais exposta aos desastres naturais, depois da Ásia e do Pacífico. A organização enfatiza que mais de 80% dos desastres na região são causados pela crise climática. Eventos extremos são cada vez mais letais, com chuvas em épocas secas, secas severas, desaparecimento de espécies animais e diminuição dos níveis de rios e lagos, entre outros efeitos, exacerbados pelas atividades humanas. Os fenômenos El Niño e La Niña se destacam como os mais frequentes e severos desses eventos. Os impactos adversos projetados, bem como as perdas e danos relacionados à crise climática, se intensificam a cada aumento do aquecimento global. Esses riscos são agravados pelo crescimento lento, instabilidade política, deslocamento de comunidades inteiras e perda de direitos sociais e trabalhistas, entre outros.
Um dos países mais afetados por desastres naturais é o Brasil, com inundações (115) e tempestades (15). O México se destaca pela frequência de tempestades (81) e inundações (48). A Colômbia registrou inundações severas (76) e deslizamentos de terra (23). A Argentina vivenciou 78 eventos, sendo os mais significativos as inundações, seguidas por tempestades (17). Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Honduras e Costa Rica foram os países mais afetados nas últimas duas décadas. Entre 2000 e 2024, os desastres naturais na ALC afetaram um número crescente de pessoas, aproximadamente 194.060.903, das quais 30.494 perderam a vida e 1.989.564 ficaram desabrigadas.
Tanto as inundações quanto os ciclones, além de causarem destruição, deslocaram comunidades inteiras. Da mesma forma, a elevação do nível do mar, as secas e as ondas de calor forçam as pessoas a abandonar suas terras e sua segurança social (ACNUR, 2024). O potencial destrutivo desses fenômenos aumenta a desigualdade dentro e entre os países da região, representando uma ameaça existencial. O UNDRR estimou que, até 2050, os impactos da crise climática poderão forçar 17 milhões de pessoas na ALC a abandonarem suas casas. Entretanto, a ONU previu o deslocamento global de 250 milhões de pessoas até o mesmo ano — números elevados e alarmantes. Os desastres naturais e os altos custos em vidas e recursos impostos pela crise climática nos obrigam a abordar suas causas profundas. A mais significativa delas é, sem dúvida, a redução dos gases de efeito estufa. Portanto, a reforma energética é absolutamente essencial. A questão é: existe apenas um caminho para essa transição?
Ao contrário das abordagens propostas pelos países desenvolvidos, que defendem um único caminho a seguir, acreditamos que a ALC deve promover suas próprias transições, distintas daquelas estabelecidas pelas elites dominantes e sua lógica de mercado. Consequentemente, é necessário abraçar visões alternativas, considerando suas próprias necessidades e a existência de outras realidades econômicas. Essas alternativas necessariamente envolvem compreender o colapso climático não como um evento isolado, mas como parte da crise civilizacional do capitalismo.
Tradução automática revisada por Isabel Lima










