Uma região, todas as vozes

L21

|

|

Leer en

Peru: no caminho para um vazio de poder?

No dia 15 de agosto passado, com apenas algumas semanas de mandato, Pedro Castillo tinha 45% de reprovação, de acordo com a pesquisa Ipsos, a mais alta para um presidente peruano no início de seu mandato nos últimos 20 anos. Quase um mês depois, de acordo com diferentes pesquisadores de opinião, a desaprovação do presidente permanece em níveis semelhantes.

Uma das principais razões para esta rejeição é a proximidade de Vladimir Cerrón com o novo presidente. Cerrón, o ex-governador de Junín -uma região no planalto central do Peru- recentemente indiciado pelo Ministério Público por suposta corrupção, exerce grande influência no governo, apesar de não poder exercer nenhum cargo devido a estar inabilitado.

De acordo com seu advogado, Cerrón está considerando solicitar asilo político diante do que chamou de “perseguição política” de seu cliente. Esta é uma evidência de que Cerrón está considerando a possibilidade de escapar da justiça peruana se for condenado por corrupção, financiamento de campanhas ilícitas e lavagem de dinheiro.

Outra razão para a rejeição por grande parte do público é a incapacidade do presidente de formar um gabinete ministerial que não esteja ligado ao Sendero Luminoso, o grupo terrorista que operou no país durante os anos 80 e 90. É o caso de Iber Maraví, o ministro dos transportes, acusado de participar de atos terroristas desde os anos 80 e, posteriormente, de participar de atos de vandalismo durante greves de professores.

O outro ministro no centro do debate público é precisamente o Primeiro Ministro, Guido Bellido, cuja página pessoal no Facebook contém posts elogiando o ex-líder do grupo terrorista, Abimael Guzmán, nos quais subscreve sua visão da realidade peruana e justifica as razões de suas ações. Estas declarações do Primeiro Ministro, que constituiriam um crime de apologia ao terrorismo, foram recentemente criticadas à luz da visita que lhe foi feita por César Tito Rojas, líder do Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais, uma organização que procura permitir a participação de ex-terroristas na vida política.

Embora a discussão pública da anistia seja em si complexa, como a experiência em países como a Colômbia demonstrou, onde o status de organizações como as FARC era diferente ao do Peru, é ainda mais difícil se for liderada por um primeiro-ministro que faz declarações em sua conta pública de uma rede social, defendendo os atos realizados pela organização terrorista.

A terceira causa da desaprovação de Pedro Castillo é a economia. A cesta básica de alimentos sofreu um aumento considerável que não é necessariamente atribuível ao governo, mas está ligada ao risco percebido pelos agentes econômicos e levou a uma desvalorização de 12% da moeda peruana em relação ao dólar desde que Castillo ganhou a primeira rodada em abril.

Além disso, o rebaixamento da Moody’s na classificação do país, em parte devido à profunda polarização política, mudou a visão internacional de risco da nação andina, enfraquecendo sua capacidade de formular políticas públicas e afetando negativamente a confiança dos investidores no país. Estes fatores arrastam um problema maior que tem a ver com a capacidade de empréstimo e as perspectivas de crédito do país a médio prazo.

As três razões da alta desaprovação do presidente -ligações com um conselheiro que não faz parte do aparato público e que foi acusado de vários delitos, ligações com a organização terrorista Sendero Luminoso e a crise econômica- projetam um futuro sombrio para o país. Neste contexto, alguns setores políticos, especialmente o setor pró-Fujimori, já estão discutindo a possibilidade do caro presidencial ficar vazio.

Neste cenário, o futuro do Peru torna-se delicado e o possível vácuo de poder se abre como um cenário semelhante ao do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski em 2017, onde após a sucessão presidencial, um Congresso deslegitimado tomou as rédeas do país.

Foto de Vice-Presidencia de la República (VPR)

Autor

Graduado em Comunicação para o Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do Peru. MBA na Escola de Negócios do Pacífico. Trabalhou como consultor em várias instituições estatais, em agências de comunicação e organizações sem fins lucrativos.

spot_img

Postagens relacionadas

Você quer colaborar com L21?

Acreditamos no livre fluxo de informações

Republicar nossos artigos gratuitamente, impressos ou digitalmente, sob a licença Creative Commons.

Marcado em:

COMPARTILHE
ESTE ARTIGO

Mais artigos relacionados