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Peru: no caminho para um vazio de poder?

No dia 15 de agosto passado, com apenas algumas semanas de mandato, Pedro Castillo tinha 45% de reprovação, de acordo com a pesquisa Ipsos, a mais alta para um presidente peruano no início de seu mandato nos últimos 20 anos. Quase um mês depois, de acordo com diferentes pesquisadores de opinião, a desaprovação do presidente permanece em níveis semelhantes.

Uma das principais razões para esta rejeição é a proximidade de Vladimir Cerrón com o novo presidente. Cerrón, o ex-governador de Junín -uma região no planalto central do Peru- recentemente indiciado pelo Ministério Público por suposta corrupção, exerce grande influência no governo, apesar de não poder exercer nenhum cargo devido a estar inabilitado.

De acordo com seu advogado, Cerrón está considerando solicitar asilo político diante do que chamou de “perseguição política” de seu cliente. Esta é uma evidência de que Cerrón está considerando a possibilidade de escapar da justiça peruana se for condenado por corrupção, financiamento de campanhas ilícitas e lavagem de dinheiro.

Outra razão para a rejeição por grande parte do público é a incapacidade do presidente de formar um gabinete ministerial que não esteja ligado ao Sendero Luminoso, o grupo terrorista que operou no país durante os anos 80 e 90. É o caso de Iber Maraví, o ministro dos transportes, acusado de participar de atos terroristas desde os anos 80 e, posteriormente, de participar de atos de vandalismo durante greves de professores.

O outro ministro no centro do debate público é precisamente o Primeiro Ministro, Guido Bellido, cuja página pessoal no Facebook contém posts elogiando o ex-líder do grupo terrorista, Abimael Guzmán, nos quais subscreve sua visão da realidade peruana e justifica as razões de suas ações. Estas declarações do Primeiro Ministro, que constituiriam um crime de apologia ao terrorismo, foram recentemente criticadas à luz da visita que lhe foi feita por César Tito Rojas, líder do Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais, uma organização que procura permitir a participação de ex-terroristas na vida política.

Embora a discussão pública da anistia seja em si complexa, como a experiência em países como a Colômbia demonstrou, onde o status de organizações como as FARC era diferente ao do Peru, é ainda mais difícil se for liderada por um primeiro-ministro que faz declarações em sua conta pública de uma rede social, defendendo os atos realizados pela organização terrorista.

A terceira causa da desaprovação de Pedro Castillo é a economia. A cesta básica de alimentos sofreu um aumento considerável que não é necessariamente atribuível ao governo, mas está ligada ao risco percebido pelos agentes econômicos e levou a uma desvalorização de 12% da moeda peruana em relação ao dólar desde que Castillo ganhou a primeira rodada em abril.

Além disso, o rebaixamento da Moody’s na classificação do país, em parte devido à profunda polarização política, mudou a visão internacional de risco da nação andina, enfraquecendo sua capacidade de formular políticas públicas e afetando negativamente a confiança dos investidores no país. Estes fatores arrastam um problema maior que tem a ver com a capacidade de empréstimo e as perspectivas de crédito do país a médio prazo.

As três razões da alta desaprovação do presidente -ligações com um conselheiro que não faz parte do aparato público e que foi acusado de vários delitos, ligações com a organização terrorista Sendero Luminoso e a crise econômica- projetam um futuro sombrio para o país. Neste contexto, alguns setores políticos, especialmente o setor pró-Fujimori, já estão discutindo a possibilidade do caro presidencial ficar vazio.

Neste cenário, o futuro do Peru torna-se delicado e o possível vácuo de poder se abre como um cenário semelhante ao do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski em 2017, onde após a sucessão presidencial, um Congresso deslegitimado tomou as rédeas do país.

Foto de Vice-Presidencia de la República (VPR)

Autor

Licenciado en Comunicación para el Desarrollo por la Pontificia Universidad Católica del Perú. MBA de Pacífico Business School. Ha trabajado como consultor en diversas instituciones del Estado, en agencias de comunicación y organizaciones sin fines de lucro.

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