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Por que — e a quem — os jornalista incomodam tanto?

Em um cenário de proliferação de informações, desinformação e ataques à imprensa, a ética jornalística ganha ainda mais relevância.

O assédio ao jornalismo, sobretudo quando afeta interesses e narrativas de quem detém o poder, não é novidade nem é próprio de um país em especial. Mas adquire novas modalidades, transcende fronteiras e produz contágio nas democracias ocidentais ou em países com regimes híbridos, nos quais avançam quem se dedicam a demolir a credibilidade de suas instituições representativas e princípios básicos, começando pela liberdade de expressão.

Isso foi recentemente alertado pelo diretor do The New York Times, A.G. Sulzberger, em um discurso contundente em favor da liberdade de imprensa na Universidade de Notre Dame, dos EUA: “O papel que a imprensa livre e independente desempenha em uma democracia saudável está sob ataque direto, com investidas cada vez mais agressivas e decididas para restringir e punir o jornalismo independente. Não creio exagerar ao dizer que essa campanha contra a imprensa atenta contra a fórmula especial de êxito que fez dos Estados Unidos um modelo por quase 250 anos. Hoje vemos a democracia sob ameaça em todo o mundo. E para os aspirantes a autocratas que buscam minar a lei, as normas e as instituições que fazem uma democracia saudável, um de seus primeiros alvos de ataque costuma ser a liberdade de imprensa. As razões não são segredo: quando se consegue restringir a capacidade do jornalismo de informar a opinião pública sobre as ações do poder de forma independente, agir com impunidade se torna cada vez mais fácil”.

Na Argentina, o presidente Milei e seus seguidores nas redes sociais vêm realizando uma campanha sistemática sob o slogan “O povo não odeia os jornalistas o suficiente”, copiado de uma campanha publicitária de Donald Trump nos EUA.

Não é a única coisa que o argentino copiou do estadunidense: a ideia dos jornalistas como “uma casta privilegiada inimiga do povo” tem suas raízes nas ideologias populistas que veem o trabalho do jornalismo como um obstáculo e foi adotada por Trump como parte de seu discurso. Os ataques verbais de Milei à imprensa têm sido uma constante na gestão do governo, que se apoia em sua equipe de comunicação digital e visa travar sua “batalha cultural” através das redes sociais. O Fórum de Jornalismo Argentino (FOPEA) alertou para 179 agressões ao longo de 2024, um aumento de 53% em relação ao ano anterior.

O tema também foi abordado por especialistas em comunicação no Congresso de Opinião Pública da Wapor América Latina 2025, reunido semanas atrás em Florianópolis, Brasil, sob o título “Opinião pública, civismo e riscos globais na América Latina”. Em particular, um fenômeno conhecido e estudado como “Percepção Hostil da Mídia” refere-se à tendência de perceber a cobertura da mídia como tendenciosa contra a própria posição, mesmo quando o tema é coberto de forma objetiva e equilibrada. Esse fenômeno é particularmente evidente em contextos de polarização da esfera política, social ou religiosa, nos quais os indivíduos tendem a interpretar as informações para confirmar suas crenças pré-existentes e rejeitar perspectivas divergentes, situação também conhecida como “viés de confirmação”.

Essa percepção de hostilidade se manifesta na impressão de que a mídia tende a favorecer o “lado oposto” do espectro político, ignorando ou distorcendo informações mais favoráveis ao próprio ponto de vista.

Katia Brembatti, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), destaca que “em uma sociedade de plataformas, a teoria dos meios hostis encontra terreno fértil para se propagar”. Os ataques à imprensa, fomentados por usinas que incentivam líderes populistas e seus seguidores nas redes sociais, pretendem minar deliberadamente a credibilidade do jornalismo, “sujar o campo de jogo” e reforçar a percepção de que a imprensa é manipuladora e enganosa.  Esse clima de desconfiança, para o qual contribui o uso de fake news e deep fakes, atua como uma nuvem tóxica sobre a conversa pública e o debate de ideias, mas também como um terreno fértil para a proliferação de narrativas caprichosas.

Daí a importância de desenvolver o pensamento crítico, buscar fontes confiáveis de informação e promover o debate para construir uma sociedade mais e melhor informada. Como destaca Brembatti: “É essencial que o jornalismo se afirme como um espaço de mediação crítica e responsável, apresentando informações precisas e contextualizadas que permitam a formação de uma opinião pública informada e consciente”.

Em um cenário de proliferação de informações, desinformação e ataques à imprensa, a ética jornalística ganha ainda mais relevância. A busca pela transparência, responsabilidade e o compromisso de investigar rigorosamente os fatos são essenciais para a confiança pública. Mais uma vez, democracia e jornalismo livre andam de mãos dadas, implicando-se reciprocamente.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

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Cientista político e jornalista. Editor-chefe da seção Opinião do jornal Clarín. Prof. da Univ. Nacional de Tres de Febrero, da Univ. Argentina da Empresa (UADE) e de FLACSO-Argentina. Autor de "Detrás de Perón"(2013) e "Braden o Perón. La historia oculta"(2011).

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