Uma região, todas as vozes

L21

|

|

Leer en

Venezuela: de eleições fraudulentas a eleições clandestinas

Quando o voto não tem consequências, não há incentivos para a participação. Os venezuelanos decidiram se abster nas eleições regionais e municipais.

As eleições parlamentares e regionais celebradas em 25 de maio passado na Venezuela foram marcadas por uma combinação crítica de irregularidades estruturais, opacidade institucional e uma altíssima abstenção cidadã, reflexo do aprofundamento autocrático que o país atravessa. Desde que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) cometeu uma grande fraude eleitoral em 28 de julho de 2024 para ignorar a vitória contundente do opositor Edmundo González Urrutia, o órgão eleitoral perdeu a pouca credibilidade que lhe restava. Sem apresentar resultados desagregados por mesa, sem um site na internet e sem que fossem realizadas as auditorias pós-eleitorais de 2024, o CNE atribuiu em tempo recorde a presidência a Nicolás Maduro, embora as atas emitidas pelas máquinas de votação e recuperadas pelos testemunhos da oposição dessem uma ampla vitória a González.

Nesse contexto, foram convocadas as eleições parlamentares e regionais de 2025. Originalmente marcadas para o mês de abril, finalmente foram realizadas em 25 de maio. Desde sua convocação, o processo apresentou graves falhas. A resolução formal para convocar as eleições não foi publicada no Diário Oficial, nem foi apresentado publicamente o cronograma de atividades, e não foi permitida a inscrição e atualização no registro eleitoral. As garantias técnicas também brilharam por sua ausência: as auditorias do sistema não contaram com a participação de atores imparciais, e a infraestrutura digital do CNE, incluindo seu site, ficou inativa, bloqueando o acesso público a informações essenciais. Sem mecanismos de controle independentes nem ferramentas de fiscalização abertas, o processo careceu dos padrões mínimos de transparência.

A líder da oposição, María Corina Machado, convidou, da clandestinidade, os opositores a se absterem de participar de um processo com essas características. Por sua vez, representantes da oposição minoritária, como Henrique Capriles, Manuel Rosales ou Juan Requesens, promoveram a via eleitoral.

Se havia alguma dúvida sobre quem lidera os setores da oposição, ela foi resolvida em 25 de maio: a população venezuelana não participou das eleições. Imagens de centros eleitorais vazios circularam amplamente na mídia e nas redes sociais, refletindo uma rejeição dos eleitores que o governo não conseguiu esconder.

Apesar desse contexto, o CNE anunciou uma participação de 5,5 milhões de pessoas, equivalente a 25% do eleitorado (21.485.669 cidadãos), mas ao mesmo tempo garantiu que esse número representava 42% dos eleitores habilitados, sem oferecer nenhuma explicação ou dados verificáveis que sustentassem esse cálculo. Os resultados oficiais são não apenas incontestáveis — por falta de acesso a dados e auditorias independentes —, mas também inconsistentes, o que aprofunda a desconfiança dos cidadãos.

Um dia após a eleição, Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e estrategista eleitoral de Maduro (foi reitor do CNE e depois chefe de campanha de Maduro), anunciou detalhes dos resultados que nem mesmo o próprio órgão eleitoral havia publicado. Por exemplo, afirmou que Henrique Capriles e outros candidatos que não fazem parte do Polo Patriótico, partido do governo, haviam conseguido cadeiras na Assembleia Nacional que entrará em funcionamento em 2026.

A opacidade em relação aos resultados é de tal magnitude que não há garantias de que esse grupo de opositores tenha sido efetivamente eleito. Andrés Caleca, ex-candidato da oposição nas primárias de 2023 e ex-presidente do Conselho Nacional Eleitoral, afirmou que, se os resultados anunciados forem verdadeiros e se o método de distribuição de cadeiras estabelecido legalmente (D’Hondt) for aplicado corretamente, a esse grupo de opositores que decidiram participar foram atribuídas artificialmente mais cadeiras do que lhes correspondem.

Assim, parece que a Venezuela está entrando em uma nova etapa onde os resultados eleitorais não só são incompreensíveis e inconsistentes, mas também não são decisivos na hora da atribuição de cargos.

Dez dias após as eleições parlamentares e regionais, e sem publicar seus resultados desagregados por mesa (embora os cargos já tenham sido atribuídos), o CNE convocou as eleições municipais para o próximo dia 27 de julho.

Desde a fraude em massa de 28 de julho de 2024, ficou claro que o governo de Nicolás Maduro abandonou a via eleitoral. Embora eleições tenham sido manipuladas anteriormente (no estado de Bolívar e na Consulta Popular de 2017), ou os resultados tenham sido ignorados (nas eleições legislativas de 2015), uma fraude da magnitude da eleição do ano passado nunca foi perpetrada.

Nos últimos anos, a oposição venezuelana, apesar das condições adversas, entrou em um processo de negociação com o governo através da mediação internacional, realizou um processo de eleições primárias para legitimar suas lideranças, no qual María Corina Machado foi aclamada, e, apesar de sua ilegal desqualificação para as eleições presidenciais de 2024, continuou na rota eleitoral e designou Edmundo González como candidato substituto. Ela elaborou uma mensagem mobilizadora, canalizou o descontentamento e o transformou em participação e até construiu uma estrutura de controle do voto (comanditos) que lhe permitiu obter quase 80% das atas de escrutínio emitidas pelas urnas eletrônicas, com o que pôde demonstrar a vitória da oposição. Apesar desses esforços em um contexto extremamente desigual, o governo de Nicolás Maduro optou por desconsiderar os resultados, reprimir e violar os direitos humanos.

Quando o voto não tem consequências, não há incentivos para a participação. Os venezuelanos decidiram se abster nas eleições regionais e municipais, e certamente farão o mesmo nas eleições municipais de 27 de julho, porque o poder de mudança do sufrágio foi anulado.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

Autor

Otros artículos del autor

Diretor executivo da Transparência Eleitoral. Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Central da Venezuela (UCV). Candidato a Mestre em Estudos Eleitorais pela Universidade Nacional de San Martín (UNSAM / Argentina).

spot_img

Postagens relacionadas

Você quer colaborar com L21?

Acreditamos no livre fluxo de informações

Republicar nossos artigos gratuitamente, impressos ou digitalmente, sob a licença Creative Commons.

Marcado em:

Marcado em:

COMPARTILHE
ESTE ARTIGO

Mais artigos relacionados