Uma região, todas as vozes

L21

|

|

Leer en

A economia circular para o tratamento de águas residuais

À medida que os países se esforçam para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030, o termo “economia circular” está ganhando cada vez mais atenção como ferramenta para alcançar soluções para alguns dos desafios mais urgentes. Uma economia circular é um sistema econômico que utiliza os resíduos como recursos, reutilizando-os repetidamente, em vez de jogá-los fora (por exemplo, reciclando plástico). Um enfoque de economia circular que pode ser usado para enfrentar uma crise regional crescente é a reutilização de águas residuais.

Em todas a América, a água doce segue diminuindo, devido ao crescimento demográfico, ao uso excessivo e aos efeitos da mudança climática. Enquanto algumas comunidades em risco se expõem mais do que outras a problemas diretos de escassez de água, os efeitos se estenderão a todos os aspectos da sociedade, desde a saúde e a higiene até a nutrição e a segurança alimentar, passando pela economia.

Por isso, as instalações de recuperação e reutilização de águas residuais têm um enorme potencial para fechar a lacuna do estresse hídrico na região. Além disso, as águas residuais são um recurso valioso do qual se pode extrair água, energia e nutrientes para ajudar a satisfazer as demandas de água, energia e alimentos da população.

O problema é que, segundo o Banco Mundial, apenas 30-40% das águas residuais coletadas na América Latina e no Caribe (LAC) são tratadas. A falta de vontade política, os marcos jurídicos restritivos e fragmentados, a falta de troca de conhecimentos e capacidades através das fronteiras e as percepções sociais negativas são só algumas das barreiras que limitam a ampliação do tratamento e a reutilização de águas residuais na ALC.

Entretanto, estes desafios podem começar a evaporar se os líderes nacionais e locais, especialistas da indústria, cientistas inovadores, grupos comunitários e outras partes interessadas colaborarem além das fronteiras mediante a diplomacia científica. A diplomacia em torno da água tem uma longa história, já que muitas fontes de água são compartilhadas entre fronteiras. Dado o risco de conflitos transfronteiriços, migrações massivas e agitação econômica se as projeções de escassez de água forem cumpridas, cabe aos líderes e especialistas da região aproveitar a diplomacia científica para começar a promover a reutilização de águas residuais.

Partindo do informe sobre recursos hídricos, do Banco Mundial, Wastewater: From Waste to Resource in a Circular Economy Context, como guia, deve ser estabelecido um fórum diplomático multinacional que convoque um grupo transdisciplinar de responsáveis políticos, funcionários, especialistas da indústria de águas residuais, cientistas e outras partes interessadas relevantes que pertençam a todo o continente americano, a fim de compartilhar inovações e lacunas e ao mesmo tempo iniciar um caminho político em direção a um compromisso de reutilizar águas residuais.

As nações poderiam usar este fórum para trabalhar juntas na criação de capacidades e aproveitar ao mesmo tempo as redes existentes. Os países de renda mais alta que contem com a experiência científica e a tecnologia necessárias deveriam fornecer financiamento, orientação, treinamento cruzado e apoio infra-estrutural adequado ao contexto e aos recursos.

O fórum também poderia atualizar os debates políticos nacionais e transfronteiriços sobre as tendências atuais e abordagens inovadoras que requerem menos infraestruturas. E o que é mais importante: o fórum pode proporcionar um espaço para manter um diálogo aberto sobre as limitações culturais ou percepções do público sobre a reutilização das águas residuais, uma vez que é provável que estas variem de uma cultura para outra e de uma comunidade para outra. 

O objetivo final é criar um conjunto de práticas em todo o continente americano para apoiar a reutilização das águas residuais como uma agenda política compartilhada, mas buscando oportunidades, a fim de encontrar soluções diplomáticas. Em última instância, trata-se de estabelecer relacionamentos em torno de uma preocupação compartilhada e desenvolver estratégias nacionais sobre a água que levem em conta as necessidades de nossos vizinhos. Dado que a água é um elemento essencial para uma vida saudável e produtiva, é também essencial que revisemos os acordos diplomáticos históricos e trabalhemos através das fronteiras para reformulá-los, nos basearmos neles e fomentar novos acordos pensando em um futuro com menos recursos. Ao fim e ao cabo, como o escritor Robert Kandel refletiu em seu livro Agua del cielo, “toda vez que você come uma maçã ou bebe um copo de vinho, está absorvendo água que circulou pela atmosfera milhares de vezes desde que nasceu”.

Coautores: Nathalia Trejedor, Odiney Álvarez-Campos, Osawai John, Sebastián Riera.

Autor

Veterinária. Pesquisadora em comunicação científica e diplomacia. Bolsista em Política Científica e Tecnológica no Instituto Interamericano de Pesquisa de Mudanças Globais (IAI).

spot_img

Postagens relacionadas

Você quer colaborar com L21?

Acreditamos no livre fluxo de informações

Republicar nossos artigos gratuitamente, impressos ou digitalmente, sob a licença Creative Commons.

Marcado em:

COMPARTILHE
ESTE ARTIGO

Mais artigos relacionados