Uma região, todas as vozes

L21

|

|

Leer en

A vitória de Trump e o rechaço ao movimento Woke

Os resultados das eleições podem ser vistos como uma reação antiprogressista que já vinha se mostrando na opinião pública, segundo as pesquisas, no comportamento do público.

A vitória de Donald Trump em 5 de novembro surpreendeu por sua contundência. O republicano não só ganhou os votos eleitorais necessários, 312 de 270, para tomar posse como presidente, mas também ganhou 50,4% do voto popular. O triunfo de Trump se consolidou tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados. Por que a vitória esmagadora?

Os resultados eleitorais contrariam a eleição apertada que foi prevista em função dos dados das várias pesquisas publicadas durante a campanha. Inclusive no dia da eleição, a média das pesquisas publicada pelo The New York Times mostrou que Trump e Harris chegavam na eleição com uma diferença a favor da candidata democrata de só um ponto percentual (49% vs. 48%).

No entanto, além de questionar se as pesquisas eleitorais falharam ou não, considero que os resultados da eleição podem ser entendidos se levarmos em conta o vínculo entre as posturas de Trump e distintos indicadores que dariam conta da aceitação da oposição à diversidade, à igualdade, à inclusão, ao combate às mudanças climáticas e à ideologia de gênero, antes da eleição.

É pertinente, então, perguntar se o triunfo do candidato republicano pode ser visto como um rechaço ao chamado movimento Woke. Esse termo tem sido usado para os movimentos e a todos os apoiadores/identificados com a luta contra a mudança climática; a discriminação racial; a promoção da agenda feminista; o reconhecimento dos direitos da comunidade LGTBIQ+; e a inclusão racial e sexual, todos movimentos que obtiveram importantes avanços com o apoio do governo democrata nos últimos anos.

Nesse sentido, os resultados das eleições podem ser vistos como o ápice de uma reação anti-Woke que já vinha se mostrando na opinião pública em duas dimensões: no expressado em diferentes pesquisas de opinião e levantamentos, e no comportamento do público.

No primeiro caso, distintas pesquisas publicadas pela Gallup, General Social Survey (GSS), Pew Research e YouGov mostraram que a preocupação racial teria diminuído 13 pontos percentuais em 2024 em comparação com 2021 (48% vs. 35%). Segundo a GSS, a opinião de que a discriminação é a causa da diferença racial teria atingido o pico em 2021 e vem diminuindo desde então. Por sua vez, a Pew Research observa em seus estudos que a proporção de pessoas que acreditam que alguém pode ter um sexo diferente daquele com o qual nasceu tem diminuído constantemente desde 2017. Já de acordo com a YouGov, a oposição a estudantes trans que jogam em equipes esportivas que correspondem ao gênero escolhido em vez do sexo biológico cresceu de 53% em 2022 para 61% em 2024.

A evidência fornecida pela Ipsos é muito mais categórica. Em março de 2023, publicou o estudo “Americans divided on whether ‘woke’ is a compliment or insult”, no qual observa que quase 60% dos republicanos e 42% dos eleitores independentes consideram a palavra “woke” um insulto, enquanto 23% dos democratas compartilham essa opinião.

O último dado sobre a opinião dos independentes é significativo, se levado em conta que o voto em Trump aumentou decisivamente nesse setor em 2024 em comparação com 2020. Segundo o relatório da IPSOS, 56% da população dos EUA considera excessiva a política de inclusão e a abordagem censora das políticas woke. Isso foi confirmado mais tarde pelo estudo Data for Progress de junho de 2024, “Voters are Tired of the War on Woke”, que descobriu que 57% dos americanos acreditam que as leis que limitam a liberdade em nome da inclusão não devem ser aprovadas.

No caso do comportamento do público, também há dados que podem nos ajudar a entender a rejeição às políticas de inclusão, por exemplo, a Disney perdeu 889 milhões de dólares no ano passado em termos do custo que representaram suas produções e o valor arrecadado nas bilheterias. Nessa situação, o jornalista John Corrigan afirma que “Hollywood está começando a questionar as cotas de inclusão por causa da crescente oposição do público”.

Isso nos leva à antiga perspectiva teórica centrada na análise da relação entre a mídia e o público, a abordagem de “usos e gratificações”, que afirma que os usuários da mídia a utilizam de acordo com seus interesses, necessidades e motivações. Se levarmos em conta essa hipótese, e de acordo com os dados apresentados, os resultados de 5 de novembro podem estar refletindo os sentimentos da maioria do eleitorado, um sentimento que vem sendo expresso há algum tempo em termos de uso e da falta de gratificação que o conteúdo da mídia está produzindo.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

Autor

Otros artículos del autor

Doutor em Ciência Política pela FLACSO, México, e professor/pesquisador da Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da UNAM. Atualmente, é diretor da Revista Mexicana de Opinión Pública da FCPYS/UNAM.

spot_img

Postagens relacionadas

Você quer colaborar com L21?

Acreditamos no livre fluxo de informações

Republicar nossos artigos gratuitamente, impressos ou digitalmente, sob a licença Creative Commons.

Marcado em:

COMPARTILHE
ESTE ARTIGO

Mais artigos relacionados