No domingo 19, os olhos do mundo viram como em apenas algumas horas Gustavo Petro foi declarado o vencedor das eleições presidenciais na Colômbia, num processo rápido e limpo. Os colombianos deram ao mundo uma lição ao mundo de como se deve conduzir e resolver de forma eficaz uma eleição. Agora começa uma nova etapa na política do país andino onde a estigmatizada “esquerda”, que já convocou para um acordo nacional, deverá governar sob o escrutínio dos seus adeptos e dos outros.
A partir de agora, as propostas de campanha deverão passar pelo diálogo político para se tornarem política pública, o que colocará à prova os temores de muitos dos colombianos que não votaram em Petro, como a sua falta de interlocução e capacidade de gestão. Mas uma das áreas em que o candidato e o próprio programa de governo do Pacto Histórico não se aprofundaram muito é a das relações internacionais. O que podemos esperar do novo governo?
O posicionamento da Colômbia na esfera internacional é um dos temas mais sensíveis que o próximo governo terá que enfrentar, e as especulações sobre suas inclinações neste terreno vêm marcadas pela já desgastada propaganda da direita, que historicamente tem apelado em todas as eleições para a venezuelanização da Colômbia. No entanto, temos algumas diretrizes.
Tanto nesta campanha como na anterior, Petro se distanciou do modelo de desenvolvimento venezuelano e de sua premissa extrativista baseada na exportação de energia fóssil sem diversificar sua produção nacional. O futuro presidente também falou sobre a deriva autoritária do regime de Maduro, marcando, contudo, as diferenças com a primeira época de Hugo Chávez.
Neste sentido, parece provável que o futuro governo aproveite o descrédito das posições assumidas pelo Presidente Duque e pelo Grupo Lima para se distanciar das posições fracassadas que continuam reconhecendo Guaidó como presidente legítimo e qualificam Maduro como usurpador. Portanto, é de se esperar que Petro opte pela terceira via, que, embora reconheça o governo de Maduro, busca promover o diálogo para que a Venezuela recupere sua democracia e sua economia maltratada.
A integração regional
Quanto ao diálogo interamericano, em seu discurso após a vitória, Petro afirmou que buscará incluir todos os países da região no processo de integração a nível hemisférico, posição similar à assumida por México e Argentina na IX Cúpula das Américas. Assim, ele também se posicionará entre os países que pretendem ser interlocutores mais amigáveis com os regimes autoritários da Venezuela e de Cuba. No caso da Nicarágua, resta saber como o novo governo processará os conflitos sobre a soberania territorial entre os dois países.
Mas além destas possíveis mudanças no posicionamento da Colômbia a nível regional, não parece que essa abertura ao diálogo com governos autoritários implique um selo de aprovação para seus regimes políticos. Petro provavelmente manterá seu compromisso com a democracia liberal, representativa e o Estado de Direito, muito mais próximo dos governos de Boric, no Chile, e Fernández, na Argentina.
O que tem sido uma característica distintiva ao longo da campanha eleitoral tem sido um compromisso com o desenvolvimento sustentável. No último super-ciclo eleitoral da região, vimos como os cComo Petro posicionará a Colômbia na região?
Esteban Caballero / Latinoamérica21
No domingo 19, os olhos do mundo viram como em apenas algumas horas Gustavo Petro foi declarado o vencedor das eleições presidenciais na Colômbia, num processo rápido e limpo. Os colombianos deram ao mundo uma lição ao mundo de como se deve conduzir e resolver de forma eficaz uma eleição. Agora começa uma nova etapa na política do país andino onde a estigmatizada “esquerda”, que já convocou para um acordo nacional, deverá governar sob o escrutínio dos seus adeptos e dos outros.
A partir de agora, as propostas de campanha deverão passar pelo diálogo político para se tornarem política pública, o que colocará à prova os temores de muitos dos colombianos que não votaram em Petro, como a sua falta de interlocução e capacidade de gestão. Mas uma das áreas em que o candidato e o próprio programa de governo do Pacto Histórico não se aprofundaram muito é a das relações internacionais. O que podemos esperar do novo governo?
O posicionamento da Colômbia na esfera internacional é um dos temas mais sensíveis que o próximo governo terá que enfrentar, e as especulações sobre suas inclinações neste terreno vêm marcadas pela já desgastada propaganda da direita, que historicamente tem apelado em todas as eleições para a venezuelanização da Colômbia. No entanto, temos algumas diretrizes.
Tanto nesta campanha como na anterior, Petro se distanciou do modelo de desenvolvimento venezuelano e de sua premissa extrativista baseada na exportação de energia fóssil sem diversificar sua produção nacional. O futuro presidente também falou sobre a deriva autoritária do regime de Maduro, marcando, contudo, as diferenças com a primeira época de Hugo Chávez.
Neste sentido, parece provável que o futuro governo aproveite o descrédito das posições assumidas pelo Presidente Duque e pelo Grupo Lima para se distanciar das posições fracassadas que continuam reconhecendo Guaidó como presidente legítimo e qualificam Maduro como usurpador. Portanto, é de se esperar que Petro opte pela terceira via, que, embora reconheça o governo de Maduro, busca promover o diálogo para que a Venezuela recupere sua democracia e sua economia maltratada.
A integração regional
Quanto ao diálogo interamericano, em seu discurso após a vitória, Petro afirmou que buscará incluir todos os países da região no processo de integração a nível hemisférico, posição similar à assumida por México e Argentina na IX Cúpula das Américas. Assim, ele também se posicionará entre os países que pretendem ser interlocutores mais amigáveis com os regimes autoritários da Venezuela e de Cuba. No caso da Nicarágua, resta saber como o novo governo processará os conflitos sobre a soberania territorial entre os dois países.
Mas além destas possíveis mudanças no posicionamento da Colômbia a nível regional, não parece que esta abertura ao diálogo com governos autoritários implique um selo de aprovação para seus regimes políticos. Petro provavelmente manterá seu compromisso com a democracia liberal, representativa e o Estado de Direito, muito mais próximo dos governos de Boric, no Chile, e Fernández, na Argentina.
O que tem sido uma característica distintiva ao longo da campanha eleitoral tem sido um compromisso com o desenvolvimento sustentável. No último super-ciclo eleitoral da região, vimos como os candidatos assumiram a preocupação com os impactos ambientais, mas com a intenção óbvia de mitigar os danos dos investimentos em processos produtivos que deixam uma pegada de carbono ou afetam os cursos de água e o equilíbrio ecológico.
A Petro está fazendo uma importante diferença nesta área e poderia, de fato, ser considerado como o primeiro presidente ambientalista da América Latina. Por isso, o sistema multilateral terá um amigo em termos de promoção da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e dos acordos de Paris. Também é de se esperar que o Acordo de Escazú seja em breve apoiado a partir da Casa de Nariño.
No que se refere ao envolvimento com o sistema multilateral, e mais especificamente com a ONU, o novo governo provavelmente terá uma relação muito diferente com a Missão de Verificação da paz no país. O governo de Duque manteve uma relação tensa com a missão a ponto de a ONU ter que colocar o mexicano Carlos Ruiz Massieu, que está próximo ao presidente cessante, à frente da missão. Igualmente importante é a menção que fez da necessidade de uma instância internacional para a corrupção. Ele provavelmente estava pensando na CECIG (Comisión Internacional Contra la Impunidad de Guatemala), patrocinada pela ONU e proibida pelos agentes de corrupção entrincheirados no poder político do país centro-americano.
O último ponto-chave, e um dos mais importantes nas relações internacionais colombianas é o vínculo com suas relações com os Estados Unidos, que por décadas tem sido o aliado mais próximo da Colômbia na América Latina, como afirmou o Secretário de Estado Anthony Blinken durante sua última visita ao país. Neste ponto, o cenário mais provável é um reajuste que consiste em atenuar os aspectos ligados à segurança e ao tráfico de drogas e, talvez, enfatizar a mudança climática, onde pode haver um ponto de encontro entre ambos os governos. De fato, Petro falou da importância global de manter a floresta amazônica como um grande sumidouro de carbono, uma posição que também é próxima à dos Estados Unidos.
A Colômbia é um país com muita influência na região, portanto, o surgimento deste novo interlocutor em cúpulas e fóruns regionais fortalecerá gradualmente certos reposicionamentos na arena internacional. A partir de agosto, veremos como esta mudança pode ser eficaz.
Esteban Caballero é cientista político e professor do programa FLACSO no Paraguai e consultor em planejamento estratégico. Ex-Diretor Regional para a América Latina e Caribe do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). É Mestre em Ciência Política pela FLACSO – México.
andidatos assumiram a preocupação com os impactos ambientais, mas com a intenção óbvia de mitigar os danos dos investimentos em processos produtivos que deixam uma pegada de carbono ou afetam os cursos de água e o equilíbrio ecológico.
Petro está fazendo uma importante diferença nesta área e poderia, de fato, ser considerado como o primeiro presidente ambientalista da América Latina. Por isso, o sistema multilateral terá um amigo em termos de promoção da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e dos acordos de Paris. Também é de se esperar que o Acordo de Escazú seja em breve apoiado a partir da Casa de Nariño.
No que se refere ao envolvimento com o sistema multilateral, e mais especificamente com a ONU, o novo governo provavelmente terá uma relação muito diferente com a Missão de Verificação da paz no país. O governo de Duque manteve uma relação tensa com a missão a ponto de a ONU ter que colocar o mexicano Carlos Ruiz Massieu, que está próximo ao presidente cessante, à frente da missão. Igualmente importante é a menção que fez da necessidade de uma instância internacional para a corrupção. Ele provavelmente estava pensando na CECIG (Comisión Internacional Contra la Impunidad de Guatemala), patrocinada pela ONU e proibida pelos agentes de corrupção entrincheirados no poder político do país centro-americano.
O último ponto-chave, e um dos mais importantes nas relações internacionais colombianas é o vínculo com suas relações com os Estados Unidos, que por décadas tem sido o aliado mais próximo da Colômbia na América Latina, como afirmou o Secretário de Estado Anthony Blinken durante sua última visita ao país. Neste ponto, o cenário mais provável é um reajuste que consiste em atenuar os aspectos ligados à segurança e ao tráfico de drogas e, talvez, enfatizar a mudança climática, onde pode haver um ponto de encontro entre ambos os governos. De fato, Petro falou da importância global de manter a floresta amazônica como um grande sumidouro de carbono, uma posição que também é próxima à dos Estados Unidos.
A Colômbia é um país com muita influência na região, portanto, o surgimento deste novo interlocutor em cúpulas e fóruns regionais fortalecerá gradualmente certos reposicionamentos na arena internacional. A partir de agosto, veremos como esta mudança pode ser eficaz.
Autor
Decano da Faculdade de C. Jurídicas e Políticas da Univ. Monteávila (Caracas). Professor da Univ. Central da Venezuela e da Univ. Católica Andrés Bello. Doutor pela Univ de Heidelberg. Mestre pela Univ. de Tübingen e Univ. de Columbia.