O fenômeno da desinformação está aumentando e representa um dos principais desafios de nosso tempo. Nos recentes debates presidenciais no México, a facilidade com que se mente e altera a realidade são reflexos de uma crise da comunicação.
Essa crise foi interpretada pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han em seu livro Infocracia como um transe de desaparecimento do outro, porque em vez de apelar ao diálogo, este desaparece ao favorecer o dataísmo, o imediatismo, a espetacularização e o oportunismo.
Vejamos um exemplo do primeiro debate. Diante da pergunta “qual seria o plano integral para fortalecer o sistema de saúde?”, a candidata Claudia Sheinbaum antecedeu a resposta com um posicionamento sobre o tema da embaixada mexicana no Equador e, ao priorizar essa mensagem, ficou sem tempo para aprofundar a pergunta que havia sido feita.
Não ouço, não falo e não vejo: parece uma estratégia útil, mas, ainda assim, limita a alteridade e torna a superficialidade uma constante que perpetua a informação maliciosa que cresce e se expande, deixando os cidadãos à deriva.
Essa indiferença não se dá só diante fatos lamentáveis como os feminicídios, mas também na própria interação entre candidatos. Além do formato, do que implica estar no palco e da personalidade de cada um, prioriza-se a exposição de datismo para atacar o adversário em vez de ter um diálogo aberto.
Nos debates, as propostas e promessas na discussão carecem de substância, o que evita que se visualize um projeto de nação – se é que existe – para o próximo sexênio. Essa opacidade gera incerteza, faz com que os aspectos substantivos desapareçam e a falsidade prevaleça.
Esse engano informativo se propaga através de várias expressões, seja mediante a relação direta, indireta, recíproca, unilateral, privada ou pública, e em todos os elementos entre o comunicador e a mensagem, o comunicador e o meio, o comunicador e o receptor, e a mensagem e o meio.
O perigo de não se comunicar com veracidade é que essas práticas laceram a confiança e debilitam as relações sociais quando a falsidade do discurso se baseia em confronto, descrédito e anedotismo.
Diante da pergunta: “Que ações substantivas e com foco nos direitos humanos vai realizar para enfrentar as violências contra as mulheres?”, a candidata Xóchitl Gálvez respondeu com uma história pessoal e não respondeu adequadamente à pergunta.
Para Han, a crise da democracia é, antes de tudo, uma crise de escuta e, por isso, sua declaração de que o outro corre o risco de desaparecer. O outro, o importante, a essência da própria vida pela qual tudo segue seu curso e se desenvolve, é colocado em segundo plano.
Talvez surpreendentemente, acredito que os autênticos ganhadores dos debates tenham sido os cidadãos, pois o nível de perguntas formuladas através de redes sociodigitais e gravadas em vídeo ecoou um ethos de credibilidade, confiança, lealdade e respeito.
Podemos esperar que o nível do discurso melhore no último debate? Talvez não, mas não podemos deixar de exigir que ponha-se em prática a retórica do discurso e que as propostas restabeleçam uma confiança social em que a alteridade prevaleça e a falsidade do discurso seja combatida; em outras palavras, que se aposte em uma comunicação assertiva.
Autor
Doutora em Pesquisa em Comunicação pela Universidade Anáhuac, México. Professora da Universidad Anáhuac e da Universidad Panamericana, Cidade do México.