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Milei versus Petro e López Obrador, a diplomacia briguenta

As redes sociais e os líderes inescrupulosos formam uma combinação explosiva e podem ser um fator adicional de erosão das relações entre os países, como mostra a briga do presidente argentino Javier Milei com seus pares da Colômbia e do México.

X (ex Twitter) serve para fazer amigos e inimigos sem sequer conhecê-los. Serve para armar e desarmar grupos de afinidade. Para comunicar e insultar. Para nos informar e para nos entreter. Para resolver problemas e para perder tempo. Para nos unir e dividir.

Líderes e pessoas influentes se valem dessa plataforma para difundir suas frases, transmitir suas impressões, comunicar-se com seus públicos e seguidores. Os presidentes a utilizam para anunciar suas decisões. O que nunca aconteceu antes foi dois países verem suas relações se deteriorarem e colocarem seus governos à beira da ruptura por uma escalada de insultos e agressões verbais entre mandatários, que é canalizada através do X, sobrepondo-se às suas relações diplomáticas habituais.

É o que está acontecendo com a saga de insultos e explosões que o presidente argentino Javier Milei tem feito, qualificando o presidente do México, Andrés López Obrador, de “ignorante” e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de “assassino terrorista e comunista”. Este último, por sua vez, já havia se referido ao presidente argentino com adjetivos duros em uma disputa que vem ocorrendo há vários meses.

A inimizade ideológica é transferida ao plano de inimizade pessoal, e um presidente deixa de representar seu país perante o mundo para se tornar o representante de quem votou nele e simpatiza com suas ideias, no país e no exterior.

Assim, as relações entre os Estados desaparecem para transformar-se em uma arena de combate ou circo romano virtual, no qual os gladiadores travam suas batalhas como representação de uma guerra entre nações, enquanto a audiência digital – grandes multidões multinacionais – aclama alguns e insulta outros, postando e comentando e repostando suas barbaridades. Os impropérios atraem a atenção, geram tendências e um impacto real que obriga as chancelarias a ativar seus protocolos de crise, enquanto os dois lados culpam um ao outro por quem começou.

A candidata presidencial da oposição mexicana, Xóchitl Gálvez, colocou nesses termos ao comentar os últimos confrontos: “Lavamos nossa roupa suja em casa”, escreveu em sua conta no X. “Não permito que Javier Milei fale mal de Andrés Manuel López Obrador. Dele cuido eu”. Enquanto isso, Milei, longe de se desculpar com seu colega colombiano, repostou mensagens em seu apoio, como esta: “O ex-guerrilheiro e narcomarxista @petrogustavo nos fez um favor: uma embaixada a menos para manter em um país que, enquanto for governado por esse criminoso, se tornará inviável”.

Certamente não é culpa das redes sociais que os políticos se comportam como energúmenos ou brigões, novidade que devemos a Donald Trump e na qual presidentes como Nicolás Maduro e Daniel Ortega se movem como peixes na água. Embora as características das redes sociais estejam reformatando as cabeças de quem navega por horas e horas lendo, escrevendo e postando mensagens curtas, julgamentos levianos, comentários obscenos e dados sem verificar.

São novas formas de comunicar e participar, nos dizem os gurus de seu impacto favorável, que agilizam e horizontalizam a vida pública, eliminam intermediários na grande ágora global. Agora ingressamos em uma nova dimensão: pode-se resolver, tramitar ou gerar conflitos diplomáticos através das redes sociais e até mesmo romper relações por Twitter.

Tratando-se de uma figura com as características excêntricas de Javier Milei, é difícil saber por que o faz, se é para ganhar amigos ou inimigos, para se comunicar ou para insultar; se está agindo seriamente desse modo, respondendo à sua ideologia ou se está simplesmente se divertindo e buscando entreter o público que o segue. Seja para se mostrar como um “enfant terrible”, provocador nato, ou porque acredita que é o melhor modo de transmitir suas ideias libertárias.

Afinal, como observou a chanceler argentina, Diana Mondino, “uma coisa são os presidentes e outra são as relações entre seus países”. Assim, os presidentes podem dizer o que quiserem e se comportar como incendiários, enquanto suas chancelarias correm atrás deles como bombeiros para apagar os incêndios que provocam, sem prejudicar as relações bilaterais. Para uma cultura tão fortemente presidencialista como a latino-americana, parece ser um argumento um tanto ingênuo ou pueril.

*A versão original deste texto foi publicada no Clarín.

Autor

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Cientista político e jornalista. Editor-chefe da seção Opinião do jornal Clarín. Prof. da Univ. Nacional de Tres de Febrero, da Univ. Argentina da Empresa (UADE) e de FLACSO-Argentina. Autor de "Detrás de Perón"(2013) e "Braden o Perón. La historia oculta"(2011).

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