No próximo domingo acontecerão as eleições primárias que definirão os candidatos que concorrerão no primeiro turno das eleições presidenciais de 22 de outubro. Até o momento, foram realizadas eleições primárias e gerais em dezessete províncias argentinas, em uma clara tentativa dos líderes locais de separar seu destino eleitoral do destino do governo nacional. Esses resultados são pistas sobre o que pode acontecer no próximo domingo.
O que está acontecendo com as eleições provinciais?
Em primeiro lugar, houve a ratificação eleitoral da maior parte dos oficialismos provinciais à frente do poder executivo, como ocorreu nos distritos de Córdoba, Formosa, Jujuy, La Pampa, La Rioja, Misiones, Río Negro, Salta, Tucumán e Tierra del Fuego.
Outro fenômeno a ser destacado é o dos candidatos governistas que sofrem derrotas nas mãos de líderes políticos que, como Rolo Figueroa na província de Neuquén e Claudio Poggi no distrito de San Luis, fizeram parte do círculo interno do poder político provincial. Também assistimos o fim de longos ciclos de hegemonia eleitoral do partido governista nos distritos de San Juan e Chubut, desta vez a cargo de figuras opositoras alheias ao “sistema hegemônico”, como Marcelo Orrego e Ignacio Torres, respectivamente.
Espera-se o teste definitivo nas províncias de Chaco, Mendoza e Santa Fé, onde as eleições primárias foram antecipadas, bem como nas províncias onde as eleições primárias serão realizadas no dia 13 de agosto, como é o caso dos distritos da província de Buenos Aires e da Cidade Autônoma de Buenos Aires-CABA.
Nessas eleições a nível subnacional, não foi registrado um papel de destaque do grupo de Javier Milei, La Libertad Avanza (LLA), como previsto em várias pesquisas de opinião a nível nacional. LLA não estaria avançando, embora a abstenção eleitoral como expressão de desencanto e desinteresse político esteja aumentando.
O processo eleitoral não esteve isento de episódios de violência política e social, como o desaparecimento e a morte de Cecilia Strzyzowski na província de Chaco e os diferentes episódios de protesto social que ocorreram – e ocorrem – na província de Jujuy, distrito conduzido pelo governador e candidato a vice-presidente Gerardo Morales.
Deve-se lembrar que doze anos se passaram desde que a chamada “Lei de Democratização da Representação Política, Transparência e Equidade Eleitoral”, popularmente conhecida como PASO (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), entrou em vigor, e esse instrumento foi usado para eleições multinível em 2011, 2013, 2015, 2017, 2019 e 2021.
O que pode acontecer a nível nacional?
O resultado do processo eleitoral pode produzir três possíveis ganhadores: o governista Unión por la Patria-UP, a oposição de Juntos por el Cambio-JXC e o protesto político.
O partido governista encara uma campanha eleitoral em um contexto de uma gestão de resultados escassos e baixos índices de aprovação, mas com o impulso de Sergio Massa, um candidato-ministro da Economia com forte vocação para o poder e um conglomerado midiático, econômico e judicial que apoia sua candidatura há uma década.
A oposição, vencedora das eleições legislativas de 2021, se encontra em meio a um processo interno altamente disputado que a impediu de convencer uma parte significativa da sociedade de sua condição de alternativa eleitoral. A resolução da disputa interna entre os candidatos Horacio Rodríguez Larreta e Patricia Bullrich em 13 de agosto poderá começar a dar resposta à questão da capacidade de JXC de “conquistar” os eleitores.
Por fim, o protesto político parece ter dois canais de expressão: a abstenção eleitoral e/ou o candidato Javier Milei. O curso do processo eleitoral nos permitirá discernir se essa é uma expressão conjuntural de inquietação social ou de uma crítica profunda à classe política como um todo.
Conforme pleiteava uma ex-ministra do gabinete nacional, a Argentina é um país mais divertido do que a Suíça. Parece não haver dúvidas quanto a isso.
Autor
Cientista político. Professor Associado da Universidade de Buenos Aires (UBA). Doutor em América Latina Contemporânea pelo Instituto Universitario de Investigación Ortega y Gasset (Espanha).