No próximo dia 9 de março de 2025, o processo eleitoral hondurenho terá início com a realização de eleições primárias. Esse processo eleitoral é de importância crucial, pois, de acordo com a Lei Eleitoral, as eleições presidenciais são definidas no primeiro turno por maioria simples. Isso faz com que as primárias sejam uma disputa política na qual os partidos testam sua força no período que antecede as eleições gerais.
Nessas eleições, os partidos políticos em disputa selecionarão seus candidatos para a Presidência da República, três vice-presidências, 128 deputados com seus respectivos suplentes para o Congresso Nacional, bem como 298 prefeituras municipais. Os candidatos escolhidos nessa fase concorrerão nas eleições gerais programadas para 30 de novembro de 2025.
Há três partidos políticos participando das eleições primárias. No Partido Nacional, os aspirantes a liderar a instituição são o ex-prefeito Nasry “Tito” Asfura, a ex-primeira-dama Ana García, esposa do ex-presidente Juan Orlando Hernández, o atual deputado Jorge Zelaya e o ex-gerente da Empresa Nacional de Eletricidade (ENEE), Roberto Martínez Lozano. No caso do partido governista Libertad y Refundación (Libre), os pré-candidatos são o ministro da Defesa, Rixi Moncada, e o vice-presidente do Congresso Nacional, Rasel Tomé. Pelo Partido Liberal, os candidatos presidenciais são Jorge Cálix, Salvador Nasralla, Maribel Espinoza e Luis Zelaya.
Crise no Partido Nacional e a ascensão do Partido Liberal
A crise do Partido Nacional (PN), hegemônico entre 2010 e 2022, está intimamente ligada à infiltração do crime organizado e do tráfico de drogas, que levou à captura e à condenação do ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022). Extraditado e condenado a 45 anos de prisão nos Estados Unidos por crimes de tráfico de drogas, seu legado representa um fardo para os quatro pré-candidatos nacionalistas.
O colapso do PN abriu as portas para o ressurgimento do Partido Liberal (PL), que dominou a política hondurenha desde sua fundação em 1891 até a crise de 2009. Naquela época, o ex-presidente Manuel Zelaya (2006-2009), ao tentar alterar a constituição para permitir sua reeleição com o apoio de Hugo Chávez, fraturou o partido. Sua expulsão deu origem ao Libre, que se consolidou como o principal rival do PN e chegou ao poder em 2022 com Xiomara Castro como presidenta. Agora, com o PN enfraquecido, o PL busca recuperar sua liderança histórica.
Entre os pré-candidatos liberais, destaca-se Salvador Nasralla, conhecido por sua trajetória como apresentador esportivo em um canal de televisão de Tegucigalpa, que foi designado vice-presidente nas eleições de novembro de 2021 como parte de uma aliança entre seu partido e o Libertad y Refundación (Libre), a força política liderada por Xiomara Castro. Ele foi candidato à presidência em três processos eleitorais consecutivos (2013, 2017 e 2021), competindo com diferentes formações e alianças, incluindo algumas com o Libre.
Apesar de não ser um tradicionalista liberal, Nasralla goza de grande popularidade devido à sua presença na mídia e estilo de liderança populista. Seu discurso “anticasta”, que ele promove desde que fundou o Partido Anticorrupção (PAC) em 2013, o posiciona dentro da nova onda populista global. No entanto, seu principal desafio será consolidar sua aceitação dentro do Partido Liberal (PL), que terá de escolher entre apoiar um outsider com forte apoio dos cidadãos ou apostar em um candidato mais ligado à estrutura do partido, como Luis Zelaya ou Jorge Cálix.
Libre: continuidade, corrupção e narcotráfico
No partido governista Libre, dois pré-candidatos estão disputando a indicação: Rixi Moncada, um confidente de confiança do casal presidencial (Zelaya-Castro) e Rasel Tomé, vice-presidente do Congresso Nacional. As pesquisas dão uma vantagem significativa a Moncada, que representa a continuidade do projeto de governo. No entanto, Libre enfrenta acusações de corrupção e ligações com o tráfico de drogas.
Em 2024, a publicação de um “narcovídeo” pela Insight Crime provocou um escândalo ao revelar um encontro em 2013 entre poderosos traficantes de drogas e o político Carlos Zelaya, cunhado da presidenta de Honduras, Xiomara. No vídeo, os criminosos ofereceram US$ 650.000 para financiar a campanha de Libre.
O escândalo desencadeou uma profunda crise política dentro do partido governista, resultando na renúncia de Carlos Zelaya, que até então era deputado e secretário do Congresso Nacional, bem como de seu filho José Manuel Zelaya, que atuava como Secretário de Defesa de Honduras, e de Rafael Sarmiento, líder da bancada do partido governista no Congresso, que Carlos Zelaya disse ter sido responsável por coordenar a reunião. Esse escândalo reforçou as acusações do Partido Liberal (PL) de que o partido governista poderia estar usando fundos provenientes do tráfico de drogas para financiar suas campanhas eleitorais.
Fatores-chave na campanha
Além da disputa partidária, a campanha eleitoral será marcada por várias questões cruciais, como a corrupção, o tráfico de drogas, a insegurança, a crise econômica e as relações com os Estados Unidos. Um ponto de controvérsia foi a recente proposta de Xiomara Castro de fechar a base militar estadunidense em Palmerola, em resposta a possíveis deportações em massa de hondurenhos sob a administração de Donald Trump. Para isso, o governo de Castro teria que cancelar o acordo bilateral de assistência militar assinado com os Estados Unidos em 1954, o que colocaria em risco décadas de cooperação e poderia gerar tensões diplomáticas e sanções econômicas. Essa proposta provocou fortes críticas de Nasralla, que acusa o governo de se aproximar da China e adverte que Libre está buscando estabelecer um modelo autoritário semelhante ao da Venezuela.
As alegações de fraude também desempenharão um papel importante no decorrer da corrida. Nasralla deu a entender que o Libre poderia tentar manipular o processo eleitoral, o que poderia levar a uma crise institucional semelhante à que ocorreu em 2017, quando o Partido Nacional (PN) foi acusado de irregularidades na reeleição de Juan Orlando Hernández.
Por fim, a violência eleitoral continua sendo um fator de preocupação. O recente assassinato de um pré-candidato municipal em Lamaní, Comayagua, menos de 40 dias antes das primárias, destaca o aumento da polarização e da violência política, o que ressalta a necessidade urgente de garantir um processo eleitoral seguro, livre e transparente.
Tradução automática revisada por Giulia Gaspar.