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O retorno de Trump e o México

A região não pode se permitir ser o bode expiatório de uma administração que busca consolidar seu poder através do isolamento e do confronto.

O retorno de Donald Trump à Casa Branca marca o início de uma nova fase de confronto que situa o México e a América Latina no epicentro de um jogo geopolítico que favorece o isolamento e a hostilidade. Suas primeiras ações, longe de constituírem estratégias coerentes de política externa, parecem destinadas a satisfazer sua base eleitoral, sacrificando relações estratégicas e minando a estabilidade regional.

Desde o primeiro dia, Trump reativou políticas migratórias rígidas, incluindo o envio de 4.000 tropas para a fronteira sul e a instauração do programa Fique no México. Esse programa, que afetou mais de 70.000 migrantes entre 2019 e 2021, obriga os solicitantes de asilo a esperar em condições precárias no México, muitas vezes sob a ameaça do crime organizado. Essas políticas não só desumanizam os migrantes, mas também geram um custo social e econômico significativo ao México, que já enfrenta pressões em seus sistemas de assistência e segurança.

Uma medida especialmente alarmante é a designação dos cartéis mexicanos como organizações terroristas estrangeiras, o que poderia facilitar incursões militares unilaterais dos Estados Unidos no território mexicano, violando assim a soberania do país, embora o próprio Secretário de Estado Marco Rubio tenha questionado essa possibilidade, segundo o escopo legal da medida executiva. Embora os carteis gerem receitas aproximadas de 60 bilhões de dólares ao ano, segundo a Secretaria de Segurança e Proteção Cidadã, enfrentá-los requer cooperação bilateral e não medidas unilaterais que só tencionam as relações entre as duas nações.

No âmbito econômico, Trump ameaça renegociar o Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá (T-MEC) e impor tarifas de 25% aos produtos mexicanos e canadenses. Em 2024, o México exportou mais de 460 bilhões de dólares aos Estados Unidos, o que representa 80% de suas exportações totais. Setores chave, como o automotivo e o agroalimentar, dependem muito do mercado estadunidense, e essas barreiras comerciais não prejudicariam só o México, mas também os consumidores e as empresas dos Estados Unidos, ao aumentar custos e reduzir a competitividade em um ambiente global cada vez mais desafiador.

O desdém de Trump pela América Latina não se limita à economia. Suas declarações, como “os Estados Unidos não precisam da América Latina”, revelam uma perspectiva imperialista que ignora as interdependências globais. A América Latina representa 20% das importações totais dos Estados Unidos e é um mercado chave para maquinário e tecnologia estadunidense. Reduzir a região a um problema menor perpetua uma narrativa de desigualdade histórica e dificulta a cooperação em assuntos críticos, como mudanças climáticas, segurança energética e gestão de crises migratórias.

A postura de Trump em relação ao Tratado de Paris também é motivo de preocupação. Durante seu primeiro mandato, retirou os Estados Unidos do acordo climático e deixou claro que o faria novamente se chegasse a um segundo mandato. Isso teria graves repercussões para os esforços globais contra as mudanças climáticas, especialmente na América Latina, uma das regiões mais vulneráveis ao aquecimento global. Países como México enfrentam secas extremas, enquanto o Brasil sofre com o desmatamento acelerado da Amazônia. Sem o apoio financeiro e tecnológico dos Estados Unidos, a região teria menos condições de mitigar os desastres naturais e se adaptar aos efeitos climáticos.

No âmbito social, Trump reavivou sua retórica contra os direitos de gênero e a diversidade sexual. Durante seu mandato anterior, implementou restrições a tratamentos médicos para pessoas transgênero, eliminou proteções trabalhistas para a comunidade LGBTQ+ e limitou a educação inclusiva de gênero. Embora essas medidas afetem diretamente os Estados Unidos, sua influência polarizadora ressoa na América Latina, onde os movimentos progressistas em defesa aos direitos humanos ganharam terreno. A exclusão promovida por Trump freia esses avanços e alimenta discursos conservadores que dificultam a integração social na região.

O impacto de Trump na América Latina não representa só um desafio para a região, mas também um retrocesso para os Estados Unidos em sua posição global. Em um mundo cada vez mais multipolar, onde potências como China e União Europeia buscam expandir sua influência, isolar-se de seus vizinhos mais próximos é uma estratégia contraproducente. Em 2023, a China superou os Estados Unidos como o principal parceiro comercial de países como Brasil e Chile, o que evidencia que a América Latina já está explorando alternativas econômicas. O isolacionismo estadunidense não gera só tensões diplomáticas, mas também limita as oportunidades de colaboração em temas cruciais que afetam a região e o mundo.

Diante dessas medidas, a América Latina enfrenta o desafio de responder com unidade e estratégia. O México, como vizinho imediato dos Estados Unidos e principal receptor de suas políticas migratórias e econômicas, tem a responsabilidade de liderar uma resposta regional que defenda a soberania e promova a cooperação internacional. É hora de fortalecer as alianças internas e diversificar os parceiros comerciais e políticos para reduzir a dependência dos Estados Unidos. Isso não será essencial só para combater as políticas de Trump, mas também para construir uma posição mais autônoma no cenário global.

O retorno de Trump à presidência deve ser um sinal de alerta para a América Latina. A região não pode se permitir ser o bode expiatório de uma administração que busca consolidar seu poder através do isolamento e do confronto. Em vez disso, deve agir como um bloco unido, capaz de enfrentar desafios e demonstrar sua capacidade de dialogar, negociar e construir um futuro que beneficie todos os seus habitantes. A América Latina tem o potencial para ser um ator chave no século XXI, e esse é o momento de provar isso. As políticas de divisão de Trump podem tentar levantar muros, mas não deterão uma região que busca avançar com dignidade e propósito.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

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Coordenador Nacional de Transparência Eleitoral para México e América Central. Mestre em Governança, Marketing Político e Comunicação Estratégica pela Univ. Rei Juan Carlos (Espanha). Professor universitário.

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