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Oriente Médio: outra guerra impossível de ganhar

Toda guerra é uma derrota humana, significa que os seres humanos não conseguiram encontrar uma via pacífica de resolver suas diferenças. Mas há um tipo de guerra que leva essa derrota moral ao paroxismo. Trata-se das unwinnable wars, ou seja, as guerras impossíveis de ganhar. A menos, é claro, que se consiga a liquidação física total do antagonista. 

Esse tipo de guerra tende a se consolidar e ficar pronta para uma nova explosão de destruição e morte. E se não encontram uma saída estável para o conflito, a ideia de que será possível encontrar uma solução definitiva no campo de batalha não passa de uma miragem. Alguns conflitos armados conseguiram encontrar essa solução, depois de muita morte e sofrimento, como no caso da Guerra da Irlanda. Mas outros, mesmo os mais atuais, como o da Ucrânia, são do tipo unwinnable war. Algo que está bem associado à sua vocação de durabilidade.

O conflito armado entre palestinos e israelenses constitui o paradigma desse tipo de guerra. Uma vez estabelecidas as bases constitutivas do confronto, só existem duas opções práticas: a destruição completa de uma das partes em conflito ou um acordo negociado, mesmo que não seja totalmente satisfatório para ninguém. Na verdade, os judeus ortodoxos se referiam a essa primeira opção quando pediram a Nethanyahu que “entrasse em Gaza para resolver de uma vez por todas o problema”. Não se pode fingir que é possível distinguir os militantes do Hamas da população palestina que vive em Gaza. A única forma de evitar que o menino de oito anos que vive nesse território ocupado seja um militante do Hamas amanhã é eliminá-lo do mapa. Essa narrativa radical atinge a população palestina com tanta força para que nunca se esqueça do custo de uma agressão a Israel. Nesse contexto, a destruição completa de um hospital, cheio de doentes e feridos, se encaixa bem nessa lógica implacável.

Mas, do lado oposto, fazer com que sua vida só tenha sentido se a dedicar à destruição de Israel também faz parte da mesma lógica, dentro da qual o uso de armas de última geração, especialmente drones, para provocar a elevação do confronto histórico se encaixa perfeitamente. A destruição de Israel é tão ilusória quanto a recusa em aceitar o estabelecimento de um Estado palestino.

Como participante de uma missão mediadora nos anos 1980, tive a oportunidade de ouvir Yasser Arafat nos contar onde ficava sua casa em Belém, antes de ser tomada por colonos israelenses. E pude comprovar que o intercâmbio de ideias com as gerações de judeus que haviam vivido nos campos de concentração era eterno, até que o interlocutor chegou ao seu último argumento, arregaçando a manga da camisa para me mostrar o número gravado em seu antebraço.

A solução para o conflito já foi estabelecida pela comunidade internacional, mediante a resolução da ONU que exige o estabelecimento de dois estados. Mas nenhuma das partes está disposta a aceitá-la por inteiro. Israel argumenta que isso pioraria sua segurança, algo que os EUA apoiam por razões geopolíticas e domésticas. E o lado palestino se mantém completamente dividido sobre a questão. O Hamas nunca superará a velha demanda do retorno à situação anterior à criação do Estado de Israel.Faz tempo que minha conclusão sobre esse conflito é que o fato de ter sofrido uma terrível perseguição ou discriminação não dá a ninguém uma carta branca moral para se relacionar com o mundo. Não há justificativa ética para usar o terror como instrumento político ou usar contra os outros a terrível experiência adquirida em campos de concentração. Os aterrorizados podem ser os perseguidores mais atroces. A comunidade internacional deve ajudar os contendores a encontrar uma via de negociação, começando por romper com a retórica vitimista de ambos. Distanciar-se de tal retórica facilita a liberdade de condenar qualquer ação condenável de qualquer um dos lados. Hoje, quando o Brasil preside o Conselho de Segurança da ONU por esse mês, parece oportuno que promova ações de caráter humanitário que se apegue aos acordos e resoluções já estabelecidos entre as partes. Inclusive quando os Estados Unidos exercem seu veto no Conselho, colocando a defesa de Israel acima de qualquer outro critério.Oriente Médio: outra guerra impossível de ganhar

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Enrique Gomáriz Moraga tem sido pesquisador da FLACSO no Chile e outros países da região. Foi consultor de agências internacionais (UNDP, IDRC, BID). Estudou Sociologia Política na Univ. de Leeds (Inglaterra) sob orientação de R. Miliband.

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