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Por que a Rússia apoia a Venezuela?

Coautor Ulf Thoene

A Rússia tem sido um aliado crucial da Venezuela durante sua complexa crise, com a qual estabeleceu sólidas relações políticas, econômicas e culturais. Em várias ocasiões, a Rússia expressou seu apoio à Venezuela, constituindo-se como seu aliado mais forte e poderoso, embora os laços estreitos entre Vladimir Putin e Hugo Chávez já existissem antes que a crise venezuelana se desencadeasse sob o governo de Nicolás Maduro.

O que motiva o apoio da Rússia à Venezuela?

A presença russa na América Latina não se limita a um único país. Embora a política externa russa tenha dado pouca atenção à América Latina durante a década de 1990, desde 2003 sua presença se intensificou, especialmente em Nicarágua, Cuba e, sobretudo, na Venezuela, que se tornou seu aliado mais importante na região.

Por um lado, as explicações estruturais predominantes destacam as considerações geopolíticas, o equilíbrio de poder e as condições militares como fatores-chave da política externa russa. Por outro lado, as abordagens construtivistas enfatizam o papel crucial das ideias e crenças na narrativa da política externa do presidente russo Putin. De acordo com essas perspectivas, a política externa russa é afetada e debilitada pelas relações com um Ocidente hostil, especialmente os Estados Unidos e os Estados membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que buscam limitar e controlar os interesses russos no exterior.

Entretanto, ambos os enfoques apresentam dificuldades e mostram-se insuficientes ao analisar uma política externa russa em relação à América Latina que é multifacetada. Apesar de suas valiosas contribuições, esses estudos tendem a se concentrar em aspectos ou dimensões específicas de uma das seguintes áreas: diplomática, informativa, militar ou econômica. Um estudo recente indica que a política externa de um Estado é caracterizada principalmente por dois elementos centrais. Essas políticas são projetadas para atingir um conjunto de objetivos, mas, devido às restrições de recursos, a gama de opções para a ação internacional dependerá dos recursos disponíveis e dos benefícios esperados. Nessa perspectiva, qualquer aliança implica custos.

É verdade que os Estados mais poderosos têm mais recursos e capacidades para promover as mudanças desejadas no status quo e que tentarão exercer sua influência sobre os Estados mais frágeis. Entretanto, as alianças assimétricas – entre Estados frágeis e fortes – podem fornecer apoio vital aos menos poderosos e apoio político ou de outra natureza aos mais fortes.

A Rússia forneceu apoio diplomático à Venezuela em vários fóruns internacionais, bloqueando em várias ocasiões iniciativas multilaterais que visavam a sancionar ou impor embargos. Além disso, a Rússia expressou grande preocupação com a interferência externa nos assuntos internos da Venezuela, alertando contra a possibilidade de uso da força em detrimento da integridade territorial e da independência política venezuelana. Em troca desse apoio claro, a Rússia recebe benefícios tangíveis.

Embora os governos da Rússia e da Venezuela compartilhem o interesse de desafiar e debilitar o poder dos Estados Unidos, esse vínculo ideológico está alinhado a interesses geoestratégicos específicos. Na verdade, as duas principais áreas da política externa russa na Venezuela são a energia e a venda de armas, que recentemente foram fortalecidas e ampliadas pelos aspectos midiáticos e culturais da política externa. 

As empresas petrolíferas russas estão envolvidas em grandes projetos de exploração de petróleo e recursos minerais na Venezuela, incluindo as valiosas terras raras. Este país sul-americano tornou-se um dos principais compradores de armas e sistemas de armamento russos. Além disso, a Venezuela forneceu apoio oficial antecipado às ações da Rússia na Ucrânia e se posicionou contra a resposta defensiva da OTAN.

Por outro lado, as significativas concessões orçamentárias destinadas ao financiamento militar na Venezuela contribuíram para manter os privilégios de sua elite militar. Ao mesmo tempo, a Rússia desempenhou um papel crucial como fornecedora de bens essenciais para atender às necessidades básicas do povo venezuelano.

Os investimentos e empréstimos da Rússia foram fundamentais para manter Nicolas Maduro no poder e continuam sendo no período que antecede as eleições presidenciais de 2024. Entretanto, a grande dívida da Venezuela com a Rússia, a inadimplência, a instabilidade e a deterioração da situação política são fatores negativos para o status quo e podem afetar a alocação de recursos. Apesar disso, por enquanto, uma ligeira melhora nas relações com os Estados Unidos e a guerra na Ucrânia parecem ter aliviado as tensões no governo de Nicolas Maduro.

Uma versão mais longa desta análise pode ser encontrada aqui.

Ulf Thoene ( @UlfThoene) é professor associado da Universidade de La Sabana, Colômbia. Doutor em Direito e Sociologia pela Universidade de Warwick, Reino Unido.

Autor

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Professor associado da Universidade de La Sabana (Colômbia). Doutor em Direito e Ciência Política pela Universidade Autônoma de Madri. Pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Salamanca.

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