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A ameaça do autoritarismo passageiro

Nos últimos anos, foram publicados livros como O Declínio da Democracia, de Anne Applebaum; Como as Democracias Morrem, de Ziblatt e Levitsky; Eu, o Povo, de Urbinati, e Vida e Morte da Democracia, de Keane. Sem dúvida, o subcontinente e o mundo estão passando por um momento de erosão democrática, e muito tem sido escrito sobre esses regimes e seus líderes populistas. Entretanto, diferentemente do século passado, esses líderes não chegam mais ao poder pela força das armas, mas por meio de eleições e, a partir daí, começam a moldar a institucionalidade e a debilitar a estrutura do Estado.

A sedução eleitoral

A ascensão dos novos autoritarismos pela via eleitoral significa que amplos setores da sociedade se sentem atraídos por suas posturas e discursos, ou até mesmo se identificam com estes personagens. A questão então é: por que, após 25 anos de democracia, muitas sociedades latino-americanas optaram por candidaturas antidemocráticas?

As pessoas que simpatizam com um projeto o fazem porque se sentem parte dele, e até mesmo o populista faz com que sintam que ele próprio vem desse povo ferido. Portanto, há um sentimento de empatia entre ambos. A sedução de certa parte da população ante uma retórica que promete acabar com seus problemas e envolvê-los na tomada de decisões tem um efeito atraente, diferentemente da contraposição de propostas, característico da democracia. 

A nostalgia e o autoritarismo

As sociedades modernas estão passando por crises institucionais e sociais, que são o terreno fértil perfeito para que amplos setores da população se sintam atraídos por lideranças populistas. A especialista Anne Applebaum afirma que essa atração surge porque grandes setores da população anseiam pelo passado de suas nações ou por um ressentimento contra a classe política que não consegue combater seus problemas de segurança, pobreza e desigualdade. Portanto, estes setores são mais propensos a votarem em propostas populistas. 

Mas o populismo não age por si só; ele usa uma arma poderosa: a desinformação. Há muitos exemplos disso, mas um dos mais recentes foi a tomada do Capitólio dos EUA, produto do fanatismo em relação a Donald Trump. A isso se soma a retórica sobre a fraude eleitoral, que foi disseminada por diferentes canais de mídia e que se materializou em imagens violentas nunca antes vistas naquele país.

O resultado é uma população com vastos setores atraídos por perfis populistas e autoritários que são novidade para a ciência política. No entanto, este fenômeno existe desde a democracia romana, e o populismo tem várias expressões e exemplos na história, desde o nazismo e o fascismo na Europa até o primeiro peronismo na Argentina, o nacionalismo revolucionário no México e o varguismo no Brasil. A semelhança é que todos eles se basearam em um líder carismático e em um discurso antiestablishment.

O populismo na América

Nos últimos anos, dois países forneceram ao mundo imagens do que o populismo e o fanatismo podem causar. Uma é a já mencionada tomada do Capitólio dos Estados Unidos em 2021. O segundo foi a tomada dos edifícios dos três poderes do Brasil por parte de apoiadores de Jair Bolsonaro. O evento ocorreu cinco dias após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente.

A experiência do Brasil está enraizada na posição do ex-presidente Bolsonaro, que, embora não tenha convocado uma insurreição, a incentivou com seu silêncio após sua derrota no segundo turno em 30 de outubro de 2022. Seus seguidores pediam a entrada das Forças Armadas para impedir o que eles chamam de socialismo do século XXI, por meio do argumento de que houve fraude no dia da eleição. Esses atos se espalharam através da tomada de estradas e marchas por parte dos fanáticos que se sentiram na obrigação de defender seu líder.

A fé move os países?

Às vezes, a política e as instituições se desgastam e se corroem, e isso faz parte das transições pelas quais os países passam. E, diante do descrédito dos partidos, candidatos e governos, os candidatos outsiders surgem como um raio de esperança para grandes setores da população que se sentem compreendidos.

No entanto, quando esses líderes chegam ao poder, demonstram um perfil religioso baseado na confiança cega em sua pessoa para poder, assim, justificar a concentração de poder, o enfraquecimento da lei e a erosão democrática. Felizmente, a política não é cíclica nem responde a padrões estabelecidos, mas aos inputs e outputs dos contextos nacionais e fenômenos que ocorrem. Portanto, embora o populismo possa debilitar a institucionalidade da democracia, não prevalecerá sobre esta.

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Cientista político. Formado na Universidade Nacional Autônoma de México (UNAM). Diploma em Jornalismo pela Escola de Jornalismo Carlos Septién.

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