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Da vulnerabilidade à resiliência: uma mudança de paradigma para por fim à pobreza na América Latina e no Caribe

Embora a América Latina e o Caribe registrem o seu nível mais baixo de pobreza na história, mais da metade da sua população continua vulnerável, evidenciando a urgência de um novo paradigma de desenvolvimento baseado na resiliência.

Em 2024, a América Latina e o Caribe alcançaram seus níveis mais baixos de pobreza em sua história, mas ainda assim uma em cada quatro pessoas vive em condições de pobreza. No entanto, o desafio vai muito além: 31% da população adicional encontra-se em situação de vulnerabilidade, pouco acima da linha da pobreza, e em risco de cair nela diante de qualquer choque, seja econômico, climático, social ou político. Em outras palavras, mais da metade da população total da região carece de mecanismos para enfrentar crises ou adversidades em suas vidas sem sofrer retrocessos significativos — e muitas vezes permanentes — em seu bem-estar.

Essa realidade desafia o pensamento tradicional em matéria de desenvolvimento, que assume a mobilidade social como algo linear: que, uma vez que as pessoas saem da pobreza, continuariam em uma tendência ascendente de expansão de capacidades e oportunidades. Em outras palavras, o notável progresso das últimas décadas na América Latina e no Caribe não foi suficiente para consolidar classes médias estáveis, o que não apenas compromete sua trajetória, mas também a coloca em risco de sofrer retrocessos.

A isso se soma outro desafio de particular importância para a região: o aumento da pobreza urbana. Embora suas taxas continuem sendo inferiores às da pobreza rural, o número de pessoas em situação de pobreza nas cidades cresce mais rapidamente. Isso em uma região onde 82% da população vive em áreas urbanas, muito acima da média mundial de 58%.

Em um contexto de crescente incerteza, no qual os riscos tradicionais são cada vez mais frequentes e intensos, e são agravados pela rápida evolução tecnológica, pela fragmentação social e por um clima cada vez mais instável, as políticas públicas para a redução da pobreza exigem uma mudança de paradigma. Uma mudança que lhes permita abordar a fragilidade de sua trajetória de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, produzir resultados em meio a essa nova complexidade. Uma coisa é clara: o que funcionou no passado já não será suficiente.

Resiliência como roteiro

O Relatório Regional de Desenvolvimento Humano do PNUD 2025 propõe uma saída para este desafio: colocar a resiliência no centro da agenda de desenvolvimento da região, como um facilitador da agência e protetor das liberdades efetivas, mas também como um roteiro. Trata-se de dotar as pessoas, os lares e as comunidades de bens e mecanismos que lhes permitam progredir e, ao mesmo tempo, prevenir, mitigar e recuperar-se do impacto de choques, podendo reconstruir suas vidas. Somente através de um desenvolvimento humano resiliente as pessoas poderão viver vidas valiosas, com confiança em seu futuro, sabendo que estão protegidas de impactos adversos.

Em termos concretos, isso exige inovar nas estratégias de redução da pobreza: incorporar a construção da resiliência como parte integrante de seus objetivos. Isso implica continuar avançando em direção ao conceito de universalidade na prestação de serviços e na proteção social, expandindo sua cobertura e alcance para incluir também a população em condições de vulnerabilidade que, por não ser considerada pobre nem estar formalmente empregada, tem sido tradicionalmente excluída dos sistemas de proteção social. Por fim, essas estratégias devem promover a acumulação de ativos e capacidades que permitam às famílias antecipar, resistir e se recuperar diante de eventos adversos, contribuindo assim para um desenvolvimento humano mais resiliente e inclusivo.

Cidades, inovação e democracia

Do ponto de vista da focalização territorial, é fundamental considerar que, embora as cidades possam oferecer oportunidades para melhorar o bem-estar, elas também apresentam desafios para aqueles que migram para elas: dificuldades de acesso a empregos dignos, alto custo de vida ou segregação espacial, quando não exclusão social. Por outro lado, esse fenômeno de urbanização também impõe grandes pressões sobre os governos subnacionais, com maiores demandas por solo urbano e investimento público, dificuldades técnicas para elaborar políticas sociais eficazes diante dessa realidade crescente, como aproveitar as oportunidades de economia de escala, tecnologia e implantar a geolocalização de serviços ou atender às pessoas em situação de rua. Além disso, o meio urbano pode amplificar as privações, a vulnerabilidade e o risco de (re)cair em situação e condições de pobreza, seja por desemprego em tempos de crise, pela impossibilidade de produzir alimentos ou pelo impacto de episódios climáticos adversos em infraestruturas críticas ou assentamentos localizados em zonas de risco.

Acabar com a pobreza por meio de um desenvolvimento humano resiliente não é uma questão exclusiva da política social; é um imperativo para a consolidação democrática. A confiança nas instituições e a legitimidade democrática são corroídas quando os sistemas não respondem às expectativas, quando não reduzem as desigualdades sociais nem garantem o acesso efetivo aos direitos, às oportunidades e às condições de segurança e prosperidade compartilhadas, sem qualquer restrição à ação e às liberdades humanas.

Em um contexto de incerteza e polarização crescente, a inovação para gerar soluções que respondam às necessidades concretas das pessoas é fundamental para construir resiliência, fechar lacunas e acelerar a eliminação da pobreza. A região já demonstrou sua capacidade de inovar: foi pioneira na incorporação de medidas multidimensionais da pobreza e no desenvolvimento de transferências monetárias condicionadas, posteriormente replicadas em todo o mundo, e conta com inovações técnicas e sociais que podemos e devemos ampliar em escala. A resiliência e a luta contra a pobreza não ocorrem apenas de cima para baixo, mas também a partir dos lares, das comunidades e dos territórios.

Mas, para tudo isso, a pobreza deve recuperar a centralidade que outrora teve no debate público, incorporando agora também a vulnerabilidade. É necessário adotar como prioridade política a focalização e o alinhamento de esforços, a ordenação de políticas públicas e a implantação de novos instrumentos técnicos e de financiamento que melhorem a eficácia e a eficiência do investimento social, especialmente em contextos de restrição fiscal e dificuldades de acesso ao financiamento para o desenvolvimento.

Enfrentar esses desafios exige uma visão renovada do desenvolvimento na região, que reconheça a pobreza como a privação de capacidades para levar uma vida plena e coloque a resiliência no centro das estratégias de desenvolvimento. Somente a partir da colaboração e da construção coletiva poderemos garantir que as respostas cheguem onde devem chegar, na escala e na forma adequadas.

O que está em jogo não é apenas o futuro do desenvolvimento na região, mas também o futuro de nossas democracias. Avançar em direção a trajetórias de vida mais dignas e seguras, menos vulneráveis, e eliminar definitivamente a pobreza. É possível, é justo e é inadiável.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

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Secretário-Geral Adjunto da ONU, Administrador Adjunto e Diretor do Escritório Regional para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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