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O Banco Mundial deve se concentrar na transição energética

O Banco Mundial é um dos quatro pilares fundamentais da Ordem Internacional Liberal que surgiu sob a hegemonia dos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial. Os outros três são o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB). Esse último surgiu como consequência da crise financeira internacional de 2008, no marco do Grupo das 20 economias mais fortes do mundo (G20).

Desde seu início, os Estados Unidos aportaram o maior capital para o Banco Mundial e, portanto, controla as rédeas, com uma parcela desproporcional de votos no conselho da instituição. Isso significa que, como é comum em tais casos, é o governo estadunidense que propõe a pessoa que dirigirá a organização multilateral. No caso do FMI, o acordo das principais potências econômicas agrupadas no G7 era reservar à França o direito de escolher o diretor da instituição. Isso mudou em 2019 com a eleição de Kristalina Georgieva, que se tornou a primeira pessoa proveniente de uma economia emergente (Bulgária) a presidir o FMI desde sua criação em 1944.

As cotas de poder sempre dependeram das cotas de capital. Isso fazia sentido após a Segunda Guerra Mundial. Mas a situação mudou e a China, atualmente, questiona, junto com outras economias emergentes, as estruturas de poder vigentes nas instituições de Bretton Woods. Esses questionamentos já provocaram mudanças que refletem melhor a nova correlação de forças na economia global.

O Banco Mundial não é o ator mais relevante na dinâmica do financiamento global. Já se foi o tempo em que as instituições gêmeas levantavam o bastão para conduzir a sinfonia da globalização com programas de ajuste estrutural das economias nos países de baixa renda. Pelo contrário, nos últimos vinte anos, o Banco Mundial teve o combate à pobreza como missão central, enquanto o FMI assumiu as tarefas de promover a estabilidade macroeconômica e financeira mundial com o objetivo de garantir o crescimento econômico e não o estrangular, como no passado.

Nesse contexto, o candidato proposto por Joe Biden para assumir a presidência do Banco Mundial a partir de junho de 2023 é Ajay Banga. Banga nasceu em 1959 no seio de uma família sikh em Khadki, uma pequena cidade no sudoeste da Índia. É economista pela St. Stephen’s College, da Universidade de Delhi, e tem mestrado pelo Instituto Indiano de Administração de Ahmedabad. Com Ajay Banga como novo presidente, a ênfase do Banco não será só o combate à pobreza, os ventos acompanham uma brisa mais sustentável.

Banga quer combater a mudança climática sem negligenciar o combate à pobreza. Essa é uma boa notícia. Uma melhor partitura, especialmente em comparação com a política desastrosa de seu antecessor David Malpass, que compartilhava o negacionismo climático de seu padrinho Donald Trump, entre muitos outros distúrbios ideológicos.

Banga é, obviamente, um cidadão estadunidense. Entretanto, sua origem indiana o aproxima muito dos dilemas do Sul Global. Talvez seja por isso que sua candidatura obteve apoio quase imediato de Índia, Quênia, Gana e Bangladesh. E por sua iniciativa determinada de fazer muito mais sobre as mudanças climáticas, ele também recebeu igual aceitação de França e Alemanha na reunião de autoridades financeiras do G20 em março de 2023.

Da perspectiva dos países de baixa renda, o objetivo é que o novo diretor garanta que o Banco Mundial possa servir como um catalisador que vincule a ação entre governos, setor privado, bancos multilaterais de desenvolvimento e sociedade civil. Definitivamente, não é uma tarefa fácil.

Menos dívidas, mais financiamento climático

Os apelos para reformar o Banco Mundial, dando-lhe uma presença maior no financiamento climático, só se multiplicaram. Muitos países de baixa e média renda estão se endividando cada vez mais e enfrentando custos crescentes à medida que aumentam as consequências das mudanças climáticas. O recente relatório do G20, que pede ao Banco Mundial e a outros bancos multilaterais de desenvolvimento que relaxem suas restrições de crédito para que mais dinheiro chegue aos países necessitados, é apenas um sinal disso.

Uma comissão, liderada pelos economistas Nicholas Stern, Amar Bhattacharya e Vera Songwe, pediu que se impulsione os investimentos de forma rápida e sustentada e que se priorize a transição para uma energia mais limpa. O relatório concluiu que o investimento anual desses países em ações climáticas deve aumentar de imediato e alcançar US$1 trilhão até 2025 e US$2,4 trilhões até 2030. Segundo os autores do estudo, os investimentos anuais em ações climáticas do Banco Mundial e dos demais bancos multilaterais de desenvolvimento triplicaram para US$180 bilhões trilhão até 2025.

Tanto os Estados Unidos quanto seus sócios europeus e o Japão estão abertos a uma reforma do Banco Mundial para adequá-lo aos novos tempos. No entanto, a proposta formulada pelo Banco Mundial há dois meses parece insuficiente para fazer frente aos desafios da humanidade e do planeta.

Já não é possível ignorar as exigências de muitos países do Sul Global para aliviar as dívidas. Mas, até agora, houve pouco movimento para a criação de um marco global para a reestruturação da dívida e os procedimentos de manejo de insolvência soberana. Os atrasos atuais são o resultado da negativa da China em aceitar o mesmo corte de dívida que os outros credores. 

Entretanto, há um consenso internacional mínimo sobre as demandas. Uma das mais importantes é que o Banco Mundial deve fornecer mais dinheiro para a proteção do clima. Essa demanda ganhou maior relevância na COP27 no Egito, onde foi solicitado ao Banco Mundial que se posicione com mais força ao abordar os “desafios globais”.

Para isso, é necessário renovar o modelo vigente de financiamento e formular condições de empréstimo mais favoráveis, entre outras medidas, que fomentem os investimentos em bens públicos.

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Doctor en Economía e investigador del Instituto SUEDWIND (Alemania). Fue investigador jefe del Depto. de Políticas de Desarrollo de dicho instituto y representante de Alemania ante la red europea no estatal para el desarrollo CONCORD.

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