A Cúpula das Américas a ser realizada em junho em Los Angeles será um espaço importante para fortalecer uma agenda de crescimento e desenvolvimento para os países da América do Norte, do Triângulo do Norte e da América Latina em geral. Lá, os países da região poderão expor a importância de que o governo estadunidense e em particular o Congresso e seus senadores republicanos reconheçam a relevância social e econômica de uma reforma imigratória, o impacto das remessas para reduzir a imigração irregular, a necessidade de liberar os quatro bilhões de dólares do Plano de Desenvolvimento da América Central e o aumento dos vistos de trabalho temporários. Para os EUA, a Cúpula será um espaço para promover uma maior e mais eficaz co-responsabilidade migratória e fortalecer a governabilidade e a governança para o desenvolvimento com compromissos compartilhados pelos países da região.
A Cúpula é um espaço político para promover um lobby eficaz na América Latina, mas os países latino-americanos devem assumir uma posição mais pragmática. Embora o governo estadunidense tenha tido algumas reservas com alguns países da região, recentemente a administração do Presidente Biden adotou algumas decisões pragmáticas. Por um lado, diminuiu as restrições para as viagens e remessas à Cuba e reuniões com funcionários cubanos para uma melhor gestão migratória e, por outro lado, permitiu que a principal empresa petrolífera norte-americana (Chevron) negociasse possíveis atividades na Venezuela, com base na relevância das reservas de petróleo do país.
Neste contexto, a prioridade da América Latina na Cúpula deveria ser convencer o governo dos EUA a promover políticas que reduzam as assimetrias bilaterais. Isso seria alcançado reduzindo as desigualdades sociais com base em uma agenda social: controle da corrupção; investimentos no setor energético que promovam energia limpa, com interesse público e maior auto-suficiência energética; maiores incentivos para micro, pequenas e médias empresas com uma perspectiva de igualdade e de valor; políticas de empreendimento e inovação social para os jovens; e insistir em uma reforma migratória com impacto laboral e de inclusão social.
Mas além da Cúpula das Américas, outras iniciativas importantes estão em andamento entre os Estados Unidos e os países da região, como o Diálogo Econômico de Alto Nível, no qual se articulam a competitividade econômica, a segurança e a mobilidade das pessoas. Sob a administração Biden, foi apresentada uma nova agenda em matéria de segurança e desenvolvimento que impactam as fronteiras norte e sul do México e com os países do Triângulo Norte, El Salvador, Guatemala e Honduras.
Esta agenda busca promover soluções para vários problemas como segurança, saúde, cruzamentos fronteiriços, migração, desenvolvimento, comércio, segurança energética sustentável e mudança climática. O desafio desta iniciativa é administrar de maneira conjunta ditas propostas para promover uma relação bilateral e regional onde predomine a competitividade, o crescimento e o respeito às soberanias de cada país.
Um segundo marco relevante nesta linha foi a reunião entre os presidentes Joseph Biden com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador na Cúpula de Líderes da América do Norte, no último 18 de novembro de 2021. Esta reunião foi o marco para fortalecer a integração e traçar um novo caminho conforme os desafios globais complexos.
Ali, o governo mexicano reiterou a importância dos fluxos e da mobilidade migratória em direção aos Estados Unidos, no contexto da necessidade de mão-de-obra de acordo com a integração laboral e do crescimento esperado da economia estadunidense. Os três presidentes destacaram a complexidade do aumento da migração irregular no hemisfério – quase três milhões de migrantes irregulares entre setembro de 2020 e abril de 2022 – o maior fluxo migratório nos últimos 20 anos.
Todas essas iniciativas são espaços onde os países da região, e sobretudo os centro-americanos e o México podem pressionar o governo de Biden a exigir melhores condições em suas relações com a potência do norte. A emigração centro-americana e mexicana não diminuirá no médio prazo. As diferenças salariais são enormes, e a demanda de mão-de-obra irregular nos EUA continuará aumentando devido ao crescimento da economia no contexto da reativação pós-pandêmica.
*Tradução do espanhol por Giulia Gaspar.
Autor
Professor e pesquisador no Departamento de Estudos de Administração Pública do El Colegio de la Frontera Norte - COLEF (Tijuana, México). Doutor em Ciência Política e Sociologia pelo Instituto Universitário Ortega y Gasset, (Espanha).