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A revanche de AMLO

O governador de Sinaloa e membro do partido governista Morena, Rubén Rocha Moya, chamou de “revanche” a marcha organizada pelo Presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO) após impulsionar a massiva manifestação contrária à reforma do Instituto Nacional Eleitoral. Esta expressão, em gíria de boxe, só pode vir de um adversário derrotado. Se no imaginário morenista isto é experimentado como uma derrota, é porque o alcance da manifestação contra a reforma e o próprio presidente não só impressionou, mas também foi percebida por muitos dos líderes do partido no poder como o declínio do chefe político e a idílica Quarta Transformação.

Alguns dirigentes do partido governante, no entanto, optaram por negar os fatos. O Secretário de Governo da Cidade do México, Martí Batres, basicamente reduziu a mobilização para 10.000 ou 12.000 assistentes. Talvez a tenha minimizado pensando no efeito que poderia ter na eventual candidatura presidencial de Claudia Sheinbaum e na sua, se aspira assumir o lugar de sua chefe atual. Até o próprio Presidente López Obrador minimizou a grande marcha sobre a cidade que já foi o baluarte incontestável da esquerda.

Entretanto, os alarmes soaram no Palácio Nacional e o governo procurou controlar os danos causados pela massiva manifestação e sua difusão midiática internacional. Não obstante, quando se esperava que López Obrador desse um passo para trás para relançar uma visão de Estado, não lhe ocorreu melhor ideia do que mobilizar suas bases para marchar em resposta. 

Esta manobra do mandatário surge partindo da debilidade, e isto se tornará evidente. Em primeiro lugar, porque o governo terá que fornecer todos os recursos públicos necessários para preencher o Zócalo na Cidade do México. Além disso, enquanto que no ato contra a reforma do governo, o reconhecido acadêmico e político José Woldenberg fez um discurso sobre os riscos de continuar a rota traçada contra o sistema eleitoral, o INE e a democracia, será o próprio presidente que o fará na mobilização oficial, ele enviou a mensagem, seguindo uma linha propagandística. Finalmente, enquanto que na marcha opositora foram defendidas as instituições e a democracia, na de AMLO serão defendidas suas conquistas.

Isto sugere que o presidente, que se sente encurralado e está perdendo sua capacidade de reação política, está apelando para o incessante aumento da polarização. De fato, ele classificou os assistentes da massiva mobilização como “fifis”, cínicos e corruptos.

Este discurso polarizante, no entanto, está gerando fraturas dentro do morenismo. O grupo ao redor do senador Ricardo Monreal disse que, embora provavelmente assistirá a concentração do mandatário, é contra a “regressão no INE”.

Mas além das diferenças dentro do partido governista, a revanche não é um bom presságio para o chefe de Estado. Este chegará ao concurso com um ” cassetete” mas lastimado e sem reflexos e, sobretudo, sem ter desenvolvido uma estratégia eficaz para dar luta.

Não falta quem diga que esta é apenas uma luta a mais do Presidente López Obrador, que seu caminho está cheio de vitórias simbólicas e que virão mais (e decisivas) batalhas para o futuro do país.

De fato, a luta está sendo travada no Congresso da União onde as forças legislativas estão sendo medidas, seja pela reforma constitucional em matéria eleitoral ou pela reforma da lei secundária. Em 2023, a disputa será para eleger três novos conselheiros eleitorais.

Além disso, serão realizadas eleições no Estado do México e Coahuila, até hoje governado pelo PRI, onde López Obrador está desesperadamente buscando a vitória para Morena. As tendências parecem favorecê-lo. No entanto, o grave não é que ganhe, mas que se repita o que aconteceu em outros estados onde a coalizão “Juntos fazemos história” venceu devido à atuação impune do crime organizado. 

Quaisquer que sejam os resultados futuros, o certo é que existe uma insurgência cidadã que vai além dos partidos e seus personagens, e que hoje está levando toda a oposição a refletir a fim de definir suas estratégias e ações futuras.

Claramente, por enquanto, a oposição parece mais inteligente do que o cenáculo do Palácio Nacional, que está apostando tudo na confrontação midiática. Embora esta estratégia a fortaleça entre os adeptos do obradorismo, a diminui entre seus opositores, que existem e ganharam as ruas. 

Em suma, a marcha que o presidente está organizando, vista em termos de revanche, como aponta o governador sinaloense, não parece ser uma boa opção, pois revela um presidente que está perdendo reflexos para ler a conjuntura e tomar, assim, melhores decisões.

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Professor da Universidade Autônoma de Sinaloa. Doutor em Ciência Política e Sociologia pela Universidade Complutense de Madri. Membro do Sistema Nacional de Pesquisadores do México.

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