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AMLO: o líder e o mito

Como negar a avalanche de partidários pró-Obrador que foi vista recentemente na Avenida Reforma, na Cidade do México? Como não aceitar que provavelmente 1,2 milhões de pessoas participaram? Como não reconhecer o fascínio que López Obrador continua provocando, além daqueles que puderam ir sob pressão desde Tijuana ou Ciudad Chetumal?

Porque, se olharmos bem, tudo se centrou no Presidente López Obrador. Foi ele quem convocou a mobilização após a manifestação cidadã de 13 de novembro e quem decidiu sobre o roteiro no qual seria o principal protagonista. Seria ele também quem faria um longo discurso repetindo muito do que diz diariamente em sua conferência matinal com o único objetivo de demonstrar que sua aura ainda está intacta. 

AMLO se equipara aos mitos de Hidalgo, Morelos, Juárez, Madero, Magón e Cárdenas, já que cada um dos grandes personagens da história tem seu lado humano mas também seu lado mítico, aquele que lhe atribuem as massas ou na atualidade também os meios de comunicação. Aquele que é indivisível. E esse é um dos problemas do mito encarnado: como transferir essa aura para outra pessoa, a fim de continuar a transformação do México? Não há como. E a demonstração são essas 1,2 milhões de pessoas que se deslocaram para o centro da Cidade do México para acompanhá-lo e demonstrar que não há outro para sucedê-lo.

Mas a adoração do líder sempre divide o partido internamente. Aí está o senador governante Ricardo Monreal, que declarou que está indo embora. E ele não está partindo sozinho em meio ao repúdio dos “talibãs” do movimento, mas está levando pelo menos um governador, parte das bancadas do Congresso da União e possivelmente arrastando consigo alguns votos da Cidade do México.

É o problema do mito transformado em homem. É religioso e intransferível. Além disso, sua influência é limitada. O fato de um milhão de pessoas ter participado da marcha pró-governo e da marcha de 13 de novembro é significativo, mas não descreve o universo de eleitores potenciais na área metropolitana da Cidade do México. Também não significa que aqueles que não compareceram não apoiam o governo ou pertencem ao mundo dos indecisos. E esse é o grande ponto de interrogação para as eleições de 2024. A questão no Estado do México e Coahuila para 2023.

Como irá votar a área metropolitana da Cidade do México? Como o fez em 2018 ou como o fez em 2021? As estratégias de Morena e da oposição procuram capturar este eleitorado por bem ou por mal. O fato é que a marcha pró-governo mobilizou, a grosso modo, funcionários públicos, empregados, beneficiários de programas sociais e, acima de tudo, os fiéis de AMLO. O resto poderia ter ficado em casa esperando a partida do México contra a Argentina ou simplesmente não pertencer ao círculo da aura do mito.

Não se trata apenas, como disse o jornalista Jorge Patterson, do “que não estamos vendo”, que é a marca mítica de AMLO. E sim das zonas de silêncio ou aquelas que já se afastaram, como aconteceu na Cidade do México.

Subtraídas ao mito obradorista, muitos estão procurando por alternativas à Morena. E isto ficou evidente na marcha na capital de 13 de novembro. Mas não há nada escrito. A Cidade do México, ou melhor, a área metropolitana do Vale do México, poderia mais uma vez se tornar uma disputa acirrada com um resultado imprevisível.

Em suma, a massiva manifestação do obradorismo foi uma demonstração da capacidade intacta de AMLO para mobilizar enormes massas em todo o país para acompanhá-lo e aplaudi-lo. Desta forma, o presidente exalta seu mito e garante que nenhuma manifestação de oposição o desafiará. Por isso a convocatória foi muito pessoal. Não foi Morena, foi ele. Se a mobilização tivesse sido convocada por Morena, o mito teria sido politizado. E o mito precisa do incenso da imagem, da voz, do rictus do líder.

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Profesor de la Universidad Autónoma de Sinaloa. Doctor en Ciencia Política y Sociología por la Universidad Complutense de Madrid. Miembro del Sistema Nacional de Investigadores de México

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