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A população da Venezuela está diminuindo e envelhecendo

No início de agosto foi divulgado um relatório das Nações Unidas, que identificou a Venezuela como o país com maior perda de população nos últimos anos, ainda mais do que a Síria. Estima-se que no ano passado o país teve quase 28 milhões e meio de habitantes, semelhante à sua população em 2010, e cerca de quatro milhões a menos do que o esperado. Isto não é surpreendente devido à migração em massa e condições de vida precárias. O que é surpreendente é o envelhecimento acelerado da população e os efeitos que esta nova composição da pirâmide populacional terá sobre o futuro desenvolvimento econômico e social do país.

A primeira causa desta redução é a migração em massa, especialmente nos últimos seis anos, sem ignorar o fato de que o fluxo começou a aumentar ligeiramente em 2000. Estima-se que aproximadamente 5,6 milhões de pessoas fugiram da Venezuela e que, mesmo quando há fluxos de retorno, especialmente devido à pandemia, estes não são significativos em comparação com os números dos fluxos de saída.

Migração da população jovem economicamente ativa

Estatísticas, produzidas em condições precárias por organizações não governamentais dentro e fora da Venezuela, bem como pelas Nações Unidas, mostraram que a maioria dos migrantes são jovens economicamente ativos. Isto explica, em grande parte, o envelhecimento da população em poucos anos e o grande número de menores aos cuidados de seus avós ou outros parentes mais velhos.

A curva populacional começou a cair precisamente em 2015, quando uma das primeiras ondas maciças de migração ocorreu e a deterioração acelerada das condições de vida na Venezuela começou a se tornar evidente internacionalmente, como resultado das políticas implementadas pelo governo.

Como Anitza Freitez, uma professora venezuelana de demografia, salientou, o envelhecimento no país avançou em quase 20 anos. Isto, juntamente com uma infra-estrutura profundamente deteriorada, deixou o país despreparado para cuidar de crianças e adultos mais velhos que não têm familiares em idade produtiva.

Se para muitas pessoas que sobrevivem na Venezuela é um drama por causa dos desafios físicos e psicológicos, para esta população é ainda mais difícil. Prova disso são os numerosos casos de pessoas idosas que morreram sem cuidados. A isto se soma a desvalorização das pensões para menos de um dólar. Portanto, não é surpreendente que mais de 80% da população idosa na Venezuela viva na pobreza.

Outro problema gerado por esta situação é que os menores são expostos ao recrutamento por grupos criminosos urbanos ou aos perigos colocados pela migração de crianças desacompanhadas. Este é um fenômeno que tem aumentado nos últimos anos e expõe as crianças a uma série de outros riscos, como o tráfico de pessoas.

A migração não garante uma melhoria nas condições de vida ou segurança. Muitas das pessoas que deixaram o país nos últimos anos o fazem a pé ou em barcos artesanais inseguros sem os recursos econômicos mínimos para cobrir suas necessidades durante a viagem. Desta forma, os migrantes são expostos a vários perigos e, em muitos casos, carecem de proteção devido ao seu status irregular.

Além do contrabando de migrantes, tráfico de pessoas e recrutamento forçado, os migrantes são expostos a expressões recorrentes de xenofobia em algumas sociedades receptoras e até mesmo das próprias autoridades. O recente anúncio pela Prefeitura de Bogotá de sua intenção de criar um comando especial contra a criminalidade estrangeira e de realizar “identificações forçadas” é um claro exemplo disso. Esta proposta discriminatória, entretanto, parece ser inspirada por uma política do governo peruano para 2020, que criou uma brigada com o mesmo objetivo.

Entretanto, também é importante reconhecer os esforços feitos pelos governos de alguns países vizinhos, especialmente da Colômbia, com a implementação do Estatuto de Proteção Temporária. Isto, além de conceder aos venezuelanos o benefício da regularização, permite uma compreensão mais clara das características da população migrante, algo que deveria vir do regime venezuelano, mas que, devido a seu negativismo, levou à falta de números e a uma má gestão migratória.

Expectativa de vida

Outro aspecto a ser levado em conta são as dificuldades relacionadas à qualidade de vida, particularmente a alimentação e a saúde, que têm um grande impacto sobre a expectativa de vida e seu declínio no país. A mortalidade infantil sofreu um retrocesso de duas décadas devido à desnutrição em crianças e mulheres grávidas, enquanto a tuberculose é uma das principais causas de morte nas prisões. Isto sem aprofundar os números de mortes violentas.

E quanto aos números de mortes causadas pela pandemia, que teve um impacto global, no caso da Venezuela são desconhecidos, já que o que é noticiado pela mídia e por algumas organizações não governamentais está longe das estatísticas e dos registros oficiais.

Tudo isso deixa claro que enfrentar a crise migratória venezuelana requer atenção coordenada e imediata por parte dos países da região. Mas também não podemos esquecer os mais de 28 milhões de pessoas que ainda vivem na Venezuela, e mesmo aqueles que não desejam migrar e que precisam de toda a cooperação internacional possível para continuar trabalhando para melhorar as condições de vida de milhares de pessoas em meio a uma ditadura.

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Professora na Pontificia Universidad Javeriana (Bogotá) e doutorando em Direito na Universidade Nacional da Colômbia. Especializada em movimentos migratórios, estudos de género e política venezuelana.

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