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Os barões do crime na relação bilateral entre México e Estados Unidos

As relações diplomáticas entre o México e os Estados Unidos da América nos tempos da chamada Quarta Transformação (4T), é marcada, entre outras coisas, pela  produção e distribuição de fentanil no México para os consumidores nas cidades norte-americanas, que, de acordo com as declarações das autoridades desse país, causa uma média anual de 100.000 mortes por overdose.

Uma característica cada vez mais visível nas relações bilaterais é o fato de que, antes ou depois de um encontro entre os líderes dos dois países, ocorrem detenções dos líderes dos cartéis do crime organizado ou da narcopolítica desde a época de Donald Trump, e não como uma solução, mas como uma simulação do problema. 

A primeira dessas detenções foi o caso de César Duarte, um ex-governador acusado de peculato e associação criminosa que fugiu para a União Americana e foi detido em Miami, dias antes de o presidente López Obrador ter sua primeira reunião com seu homólogo Donald Trump, o que foi interpretado como um gesto de boa vizinhança e distensão política após as tensões causadas pela construção do muro na fronteira que “reforçaria” a segurança estadunidense.

Assim, em agosto de 2020, semanas depois de o presidente López Obrador ter feito uma visita de Estado a Washington para se encontrar com Donald Trump na Casa Branca, José Antonio Yépez, líder do Cartel de Santa Rosa de Lima, foi detido e acusado de vários delitos, mas isso ocorreu como parte da pressão exercida pelos Estados Unidos sobre o presidente mexicano após a violência que havia atingido cidadãos norte-americanos. 

Em março de 2022, antes de um encontro entre o presidente mexicano e o secretário de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Alejandro Mayorkas, membros do exército detiveram Gerardo Treviño Chávez, o suposto líder do Cartel do Nordeste, acusado de violência criminosa, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, o que provocou confrontos na fronteira de Tamaulipas que levaram à suspensão da mobilidade entre os dois países.

Já sob o governo democrata de Joe Biden, a colaboração continuou com a participação aberta da DEA e a detenção de um histórico traficante de drogas, o lendário Rafael Caro Quintero, que foi detido em 15 de julho de 2022, dois dias após o presidente mexicano retornar de Washington com o compromisso de que o governo dos Estados Unidos investiria US$ 1.500.000 em infraestrutura para a fronteira norte.

Em 5 de janeiro de 2023, Ovidio Guzmán López, filho de Joaquín El Chapo Guzmán, foi detido quatro dias após a visita de Joe Biden ao México para participar da 10ª Cúpula de Líderes da América do Norte.

A detenção de Guzmán López foi estratégica no momento devido a seu vínculo com a produção e distribuição de fentanil em cidades norte-americanas. Os estadunidenses estavam oferecendo uma recompensa de 5 milhões de dólares para quem ajudasse a localizá-lo. 

Sua detenção nos subúrbios de Culiacán, em Sinaloa, provocou o que é conhecido como o segundo culiacanazo, ou seja, transformaram a capital de Sinaloa em um campo de batalha entre essa facção do Cartel de Sinaloa e as forças de segurança do Estado mexicano, deixando um cenário de guerra e um rastro de mortes em ambos os lados. 

Vale ressaltar que nessa operação há um personagem que desempenhou um papel central: Néstor Isidro Pérez Salas, que era responsável pela segurança dos filhos de Joaquín El Chapo Guzmán, mas que também é identificado como produtor e exportador de fentanil. 

Essa detenção ocorreu quatro dias após o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), no qual o presidente López Obrador teria se reunido com Joe Biden e também com o presidente Xi Jinping da República Popular da China, concordando em combater o tráfico ilegal de precursores químicos de drogas sintéticas. 

Em suma, a sucessão desse tipo de eventos durante o governo 4T mostra que sua política externa soberana é guiada pelas necessidades de cada uma das nações e que isso não mudará, mas será consolidado na atual e na próxima administração, o que significa que o crime organizado, contrariamente ao que se afirma que ele “se manda”, é, no final, uma moeda de troca quando ocorrem esses tipos de encontros entre os chefes de Estado dos países vizinhos.

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Profesor de la Universidad Autónoma de Sinaloa. Doctor en Ciencia Política y Sociología por la Universidad Complutense de Madrid. Miembro del Sistema Nacional de Investigadores de México

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