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Eleitoralmente, Minas Gerais é um Brasil em miniatura

Após cada eleição, qualquer que seja o país, as análises traçam mapas do comportamento dos eleitores e demonstram como a somatória de tendências diversas nas diferentes regiões compõem o resultado final em nível nacional. No entanto, em pouquíssimos casos, observam-se províncias ou regiões que, pela composição de sua população, refletem as tendências políticas nacionais; esses territórios são conhecidos como bellwethers. Seja no Estado de Minas Gerais no Brasil, no Estado de Ohio nos Estados Unidos ou na Comunidade Autônoma de Aragón na Espanha, eleição após eleição os resultados eleitorais são um reflexo do resultado a nível nacional.

De acordo com os especialistas Tejedor e Dader, os bellwethers podem ser definidos como cidades, províncias ou regiões que marcam ou dirigem a tendência nacional, embora também possam ser uma cópia quase exata do resultado nacional. Portanto, os bellwethers também podem ser uma ferramenta para prever o vencedor de uma eleição nacional.

De acordo com os especialistas Tufte e Sun em seu livro Are There Bellwether Electoral Districts?, os bellwethers se dividem em duas categorias principais. Por um lado, os distritos barométricos prevêem a proporção de votos nacionais recebidos pelo vencedor e, por outro lado, os distritos swingométricos detectam as mudanças ou oscilações na proporção de votos de uma eleição a outra. Esses dois métodos permitem medir os desvios nas regiões em relação à média nacional e, naturalmente, o número de vezes que as regiões acertam a posteriori no voto para o vencedor das eleições. 

Brasil e Minas Gerais

As recentes eleições presidenciais no Brasil reafirmaram que Minas Gerais é um estado bellwether de bastante confiança. Em uma análise prévia, observamos que, de 1989 a 2022, o único estado federal no Brasil que se encaixava nas definições é Minas Gerais. Foi o único Estado, junto com o Amazonas, que não falhou em nenhum dos ciclos eleitorais à presidência do Brasil, e seus indicadores são quase exatamente os mesmos da média nacional de votos.

Durante o primeiro turno, a análise barométrica mostrou que o voto recebido por Lula da Silva em Minas Gerais foi apenas 0,14% abaixo da média nacional. Além disso, seu desvio médio desde 1989 é de 3,53 pontos porcentuais. Em termos de análise swingométrica, as diferenças de votos de umas eleições para outras em Minas Gerais oscilam de 3,16% a 0,80%.

Esta análise nos permitiu fazer estimativas para o segundo turno. Previmos que o resultado seria muito próximo, e no final foram 50,90% dos votos para Lula e 49,10% para Bolsonaro. O segundo turno correspondeu a nossa análise prévia, conforme observado em Minas Gerais. A porcentagem dos votos em Minas Gerais ficou 0,70 pontos atrás do resultado nacional e sua variação entre o primeiro e o segundo turno foi de 0,56 pontos.

Espanha e Aragón

Na Espanha, é bem conhecido que o que acontece em Aragón se reflete em nível nacional. Nossa análise de 1977 a 2019 demonstra que a Comunidade Autônoma de Aragón é a única que sempre votou no vencedor das eleições gerais. Além disso, se analisarmos as províncias que compõem Aragón, vemos que nas eleições gerais Huesca e Zaragoza sempre votaram no vencedor eleitoral. Enquanto a análise barométrica demonstra que Zaragoza é a província que melhor reflete a porcentagem de votos para o vencedor das eleições gerais.

Outro tipo interessante de análise encontramos nas eleições regionais como preditores do que vai acontecer em nível nacional. Aragón volta a ser chave. Apesar de as eleições gerais e regionais não terem coincidido nos mesmos anos até 2011, podemos analisar o que ocorre um ano antes em Aragón para entender as mudanças a nível nacional.

Nossa análise mostra que as eleições regionais em Aragón são um bom indicador swingométrico já que, desde 2011, as eleições têm coletado as mesmas variações de votos que ocorreriam nas eleições gerais meses depois. E a análise barométrica nos permitiu ver que a porcentagem de voto obtido pelo partido mais votado em Aragón é praticamente idêntica à porcentagem de voto obtido pelo vencedor das eleições gerais em nível nacional.

Bellwethers como preditores, uma explicação

Autores como Edwards Tufte explicaram em suas pesquisas por que os bellwethers podem ser capazes de replicar resultados em nível nacional. Uma das possibilidades mais amplamente reconhecidas é a existência de uma população altamente representativa do panorama nacional. Desta forma, poderíamos explicar por que a composição de sua população reflete as tendências políticas nacionais à escala regional.

O estudo sociológico da população por estratos pode determinar as semelhanças entre as populações dessas regiões e a população geral do país segundo parâmetros como a proporção entre homens e mulheres ou a composição etária da população. A estas semelhanças, somam-se outras, como a situação socioeconômica e as preferências políticas, que propiciam os acertos eleitorais eleição após eleição, seja em Ohio, Aragón ou Minas Gerais.

Autor

Cientista político. Doutorando em Poder e Democracia na Universidade Pablo Olavide (Sevilha). Mestre em Análise Política e Eleitoral na Universidade Carlos III (Madrid).

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